sábado, 24 de setembro de 2011

Macaé e sua História recente no contexto da segurança pública. Uma visão da segurança municipal.

Vivemos em uma cidade em constante transformação, desde os anos 70 Macaé, nossa cidade, vive uma constante transformação de seu próprio tempo, de seu próprio espaço, de sua própria gente. Os anos 80 trouxeram a tecnologia e o aparelhamento governamental. A cidade cresce e com ela sua população. Uma profunda transformação social é vivenciada por seus novos e antigos habitantes. E no fim dos anos 90 um avanço social é proposto pelo governo municipal. A reestruturação da já tradicional Guarda Municipal.

Um concurso público é realizado unindo filhos originais desta terra e novos filhos adotivos que chegavam para trabalhar por esta cidade. Mas o grande diferencial deste concurso foi o de trabalhar de forma civil, solidária e servindo a toda a população. Os jovens que aqui chegavam traziam um sopro de renovação para suas vidas e para a vida da própria cidade. Macaé crescia em recursos, em visibilidade, em população e em oportunidades. Sua crescente população necessitava de atenção, precisava de servidores no melhor aspecto da palavra e a Guarda Municipal veio preencher justamente este espaço.

Em contato direto com a sua população o Guarda Municipal era o maior representante do governo nas ruas. Ouvia as queixas da população, providenciava soluções para os seus problemas, que quando não resolvidos de forma imediata, eram encaminhados diretamente da Guarda Municipal para as demais secretárias municipais. A Guarda Municipal estava nas ruas, nas escolas, nos hospitais e postos de saúdes, nas secretarias, nas praias e nas serras e matas da cidade. O sentimento de pertencer a cidade passou a habitar o coração de todos nós. Atendemos nas tragédias e nas alegrias. Nas enchentes, acidentes, afogamentos e incêndios florestais, nos parques, nos desfiles, nas comemorações, nos shows e nas datas festivas. A sociedade estava integrada a Guarda Municipal e nós nos sentíamos parte desta sociedade.

Éramos jovens, idealistas, defensores e amantes desta cidade. Limpos, íntegros e honestos. Mas a constante evolução da cidade não premiou a nossa Guarda Municipal com a mesma evolução.

De secretaria, viramos empresa, autarquia e agora uma subsecretaria. Nossa função de controlar e organizar o crescente trânsito e o emergente sistema de transporte público nos foi tirado. Depois de construímos todo o conhecimento de como evoluir junto com a cidade, tudo foi cortado e recomeçado do zero em outro lugar. Tornamos-nos órfão de uma função que nasceu junto com nossa vida na cidade. Até hoje se olha para um agente de trânsito na cidade e o chamamos de “Guarda”, é a referencia que ultrapassou medidas administrativas e políticas que não atendiam ao real interesse da cidade e da população. Sem referencia e atendida por contratados a cidade mergulhou em um grande conflito e em uma grande confusão que transformou transitar pela cidade uma verdadeira Via Crucis.

Os veículos apreendidos pelas ruas da cidade eram guardados e administrados pela Guarda Municipal. Um órgão ainda sólido, que garantia a tranqüilidade de quem já passava por momentos difíceis inevitáveis quando temos nossos veículos apreendidos. Mas mesmo nesse momento difícil o cidadão era tratado por funcionários que carregavam seu nome no peito e o brasão da cidade em seus braços. O cidadão sabia com quem estava resolvendo seus problemas, hoje uma empresa particular que defende interesses desconhecidos administra esse intricado circulo de medidas e conta medidas constantes.

Mas nossas perdas continuavam, nossos Salva-Vidas nas praias deixaram de apoiar o corpo de bombeiros, nossa apreensão de animas que atuava 24 horas por dia foi desfeita, nossa fiscalização de posturas foi abolida, nossa personalidade diminuída.

Perdemos ainda o monitoramento por câmeras de segurança na cidade, depois de sucateada e sem nenhuma manutenção ou investimento, toda a estrutura foi entregue ao governo do estado que hoje opera de forma obscura e sem consulta a sociedade de qual seria os benefícios que ela mesma espera deste importante serviço.

Hoje perdemos nossa casa, mesmo ainda tendo nosso quintal. É triste e desolador chegar ao trabalho e encontrar paredes destruídas, teto caído, pó e poeira no lugar em que vivemos momentos de satisfação e alegria por servir e se sentir parte de uma estrutura que funcionava.

Nosso grupo tão forte e tão unido não resistiu a tantas perdas. Afinidades políticas se tornaram mais importantes que o bem estar coletivo. Projetos pessoais se tornaram mais importantes que a própria instituição. Apadrinhamentos, injustiças, perseguições e desmandos se tornaram comuns. Um rico orçamento se transformou em pó. Sem rádios, sem uniformes, sem viaturas, sem ao menos um lugar para se proteger do tempo ficamos. Ninguém resistira, ninguém suportaria, ninguém viveria assim.

Mas nós vivemos, nós suportamos e resistimos. Servimos a população em tudo que está ao nosso alcance, em poucas escolas e em raros prédios municipais, em que ainda trabalhamos. Em poucas praças e alguns parques. Ainda somos íntegros, limpos e honestos. Afinal caráter é para sempre. Os jovens que aqui chegavam para renovar hoje precisam de uma renovação, necessitam do fresco vento da mudança.

Pois exatamente hoje, no dia em que escrevo nossa moral afunda ainda mais, nossa identidade é ainda mais destruída e rezo por em breve poder voltar aqui e apagar esse último parágrafo e escrever uma nova história. Que venha a mudança, que os ventos mudem, que as pessoas vivam.

Bruno Horta.

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