quarta-feira, 20 de julho de 2011

Trabalho digno e trabalho honesto.

Em uma das várias viagens que faço quase que semanalmente entre a capital do Rio de Janeiro e a cidade de Macaé passei por uma das obras de manutenção da BR 101. A obra colocava a estrada no sistema pare e siga, onde somente uma das pistas fica aberta e o fluxo dos veículos fica alternando entre os sentidos.
Em um trecho da estrada nas imediações de Rocha Leão, um distrito pobre e rural da progressista cidade de Rio das Ostras. A fila de veículos se formava e aproveitando a parada dos veículos algumas pessoas foram para estrada vender água, biscoito e outras pequenas coisas que possam ser úteis a quem está na estrada e ainda mais em um engarrafamento. Era visível a cara de esforço e o aparente cansaço na expressão de cada um que tentava vender seus humildes produtos a carros modernos e grandes caminhões e ônibus de empresas famosas e outas nem tanto.
Rosane, que sempre está comigo nestas viagens, logo comentou que era um trabalho duro, sacrificante, mas era um trabalho digno, mesmo que humilde. Percebi imediatamente que aquele trabalho está longe de ser digno. E que acabamos colocando o conceito de digno no lugar do conceito de honesto neste caso.
Não vi, neste caso, nenhuma ou muito pouca dignidade no trabalho exercido por essas pessoas. Por morarem em um distrito rural e afastado do centro da cidade não beneficiados por todas as oportunidades oferecidas para quem mora no centro. O distrito é atendido por apenas uma linha de Kombi para transportar a população para o centro. Carentes de saúde, educação e, principalmente, de emprego. Os moradores aproveitam as oportunidades que o destino lhes oferece. Como engarrafamentos; acidentes onde as cargas são saqueadas; chuvas que fecham a estrada ou ações de filantropia oferecidas por algum órgão governamental.
Andar no asfalto, às vezes até descaço, debaixo de sol ou chuva, oferecendo produtos de pouca qualidade, sem nenhuma garantia de procedência para pessoal que consomem produtos muito diferentes, por estarem em outra classe social. E ainda defrontar-se com olhares de desprezo ou de desconfiança, é um trabalho duro para adultos e jovens e se torna ainda mais pesado e nada digno para crianças, mulheres e idosos que necessitam estar nesta condição.
Esta é a principal característica que separa o trabalho digno do trabalho honesto. Não há duvidas que o trabalho destas pessoas é honesto. Afinal oferecem produtos a preços justos quando não são produzidos por eles próprios, como frutas ou legumes e verduras. Mas é a falta de igualdade de condições para todos da sociedade que coloca uma linha bem definida entre trabalho digno e trabalho honesto.

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