terça-feira, 27 de novembro de 2012

Fazenda Campos Novos, uma História de troca de posses.

Fazenda Campos Novos, uma História de troca de posses.
Por mais absurdo que possa parecer essa é placa de entrada da Fazenda Campos Novos em Cabo Frio – RJ. Completo absurdo por ser uma placa incrivelmente simples e mesmo assim mal cuidada. A placa ainda informa ser um Sítio Histórico, quando na verdade foi uma fazenda Jesuíta e ainda informa estar sob a administração da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, fato inaceitável, pois a fazenda é tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), processo nº 01500.005719/2010-49 e foi publicado no Diário Oficial da União em 23 de novembro de 2011.
Logo na entrada da fazenda encontro a senzala ou o que restou dela, hoje já reformada e utilizada como depósito de material da Secretaria de Agricultura de Cabo Frio. É possível observar que é uma grande senzala e que não seguia o modelo familiar, isto é, todos os negros permaneciam juntos e ficavam trancados enquanto não trabalhavam. Mesmo já bastante modificada é importante ressaltar que ela permanece no local original, cerca de 50 metros dos fundos da casa grande e ao lado de uma antiga horta.
As terras da Fazenda Campos Novos tinham de testada quatro léguas e meia principiando a mesma no sítio chamado de Genipapo partindo da parte do Norte com os moradores da baía Formosa, do Sul com as terras da aldeia dos índios de São Pedro e da do Norte correndo rumo ao Nordeste por costa do mesmo mar até a praia do Rio de São João e do Poente com o sertão até intestar nas terras de Bacaxá... (Carta de Sesmaria).
Já bastante alterada de sua forma original aqui se pode ver a Casa Grande da visão de quem está na senzala. É o fundos onde fica a cozinha (portas abertas ao centro da imagem). Acima e a direita é a varanda com ligação a igreja que fica do outro lado da casa. A fazenda fica no caminho entre Campos dos Goytacazes e a cidade do Rio de Janeiro e servia de descanso e engorda para o gado que seguia para a capital. A fazenda produzia açúcar e depois café. A produção era levada para a lagoa de Araruama por carros de boi e de lá seguiam para o Rio de Janeiro.
Em 1759 a fazenda é tomada pelo governo português e recebe o nome de Fazenda D’el Rey e é colocada a venda. O fazendeiro Manoel Pereira Gonçalves compra a fazenda. Durante esse período a fazenda recebe a visita de Auguste de Saint-Hilaire em 1820 onde o naturalista francês recolhe espécies de plantas e deixa registrada a decadência da região em seus livros.
Outro importante visita a fazenda foi de D. Pedro II que em 1847 almoçou na fazenda em uma viajem para Campos dos Goytacazes. Naquele ano o proprietário da fazenda era o padre Joaquim Gonçalves Porto. A fazenda troca de donos diversas vezes até que na década de 50 do século XX o proprietário Antonio Paterno faz um completo loteamento da fazenda, cedendo terras para loteamento e grileiros. Depois de uma disputa judicial com os ocupantes da fazenda Antonio Paterno vendeu 25% das terras a Destilaria Medelin S.A. O restante foi vendido ao Sr. Henrique da Cunha Bueno que até os 1970 tentou expulsar os colonos da terra. Mas ainda em 1960 um jagunço foi contratado para expulsar os colonos a força, ele era conhecido como “Goaquica” que atacava violentamente os moradores da fazenda e apoiava os grileiros que também tinham interesse em expulsar estes colonos. O resultado deste conflito foi a criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cabo Frio, propondo a reforma agrária já em 1961.
O novo dono da Fazenda, na época chamada Companhia Agrícola, Jamil Miziara, havia recebi a posse das terras de volta no fim dos anos 60, pois o golpe de 64 temia os movimentos sociais, chamando-os de comunistas, expulsou os movimentos sindicais da terra a garantiu a propriedade particular. As únicas vozes que defendiam os colonos eram do padre Aldo e do vereador José Bonifácio Ferreira Novelino. Entre os anos de 1972 e 1976 o Sr. Jamil loteou a fazenda e vendou alguns lotes com a autorização do prefeito de Cabo Frio Antonio Castro. Mas o fracasso das vendas e a improdutividade da terra levou a fazenda a ser incluída no projeto de reforma agrária em 1982, promovida pelo governo Figueiredo. Já em 1993, José Bonifácio se torna prefeito de Cabo Frio e depois de um período de lutas e assassinatos locais, desapropriou a fazenda e deu direito de uso aos antigos colonos que lutaram pela terra.
A sede da fazenda continua mesmo tombada pelo IPHAN, sendo utilizada pelo governo municipal e não permitindo que a população tenha acesso a essa importante obra e fundamental história para compreender a região de Cabo Frio de forma ampla e esclarecedora. Para finalizar deixo a foto de um tumulo do cemitério local, sem identificação e sem data, mas informado pelo coveiro local que se trata da cova mais antiga do local.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Macaé 2012: As diferenças sociais.

Macaé 2012:
As diferenças sociais.
No dia 26 de novembro de 2012 aconteceu na cidade do Rio de Janeiro mais uma manifestação em defesa dos Royalties do petróleo que desde a década de 1980 chega aos municípios da região no norte e lagos fluminense como compensação pelos impactos produzidos pela extração do petróleo. Recentemente o Brasil atravessa uma discussão sobre uma divisão igualitária destes recursos para todos os municípios brasileiros. Os chamados “municípios produtores” protestam e todos os demais reclamam esses recursos. Matematicamente qualquer votação política resultará em vitória para os “não produtores” que são em número muito maior, mas como a questão é política pode-se esperar qualquer resultado em um futuro próximo.
Mas o que seria uma fonte de soluções se torna a origem dos problemas políticos, econômicos e sociais. Políticos pela guerra pelo poder nesses municípios milionários. Campanhas políticas que fogem do seu principal objetivo que é o debate de idéias e se transformam em uma novela de intrigas, fofocas e agressões. Problemas econômicos que percebemos claramente nas grandes cifras divulgadas pela imprensa e que pouco resulta em benefícios para a população. Em todos os municípios que recebem a maior parte dos recursos é possível identificar um grande crescimento da máquina pública como: Grande numero de secretarias, contratações e assessorias que pouco resulta em bom serviço prestado a sociedade. Socialmente os impactos são ainda mais devastadores bolsões de excluídos se formam nas cidades, bairros nobres tornam-se cada vez mais elitizados e hiper valorizados, enquanto os excluídos estão distantes, sem assistência governamental e quase sempre muito fiscalizado pelos órgãos de meio ambiente, de posturas ou policiais.
Um elemento geográfico divide socialmente a cidade. O Rio Macaé divide a cidade em norte e sul, onde o norte é prejudicado pela falta de políticas públicas e o sul, parcialmente, recebe grande parte dos investimentos. Neste ano de 2012 foi iniciada a obra de reurbanização da Imbetiba, iniciada porque até o momento, mês de novembro, a obra está parada. Enquanto bairros que jamais foram urbanizados, como o Jardim Carioca, não receberam qualquer serviço publico. As ruas continuam feitas de terra, sem água, sem esgoto e de frente para um valão (canal Campos – Macaé) sem tratamento e completamente abandonado. Imbetiba fica no lado sul e o Jardim Carioca no lado norte.
O lado sul recebeu a sede administrativa da Petrobras e o Parque de Tubos, local onde a base operacional funciona. Bairros como Miramar, Visconde, Sol y Mar, Glória, Cavaleiros e Lagoa experimentaram um crescimento quando não espetacular, pelo menos, notável. Mas como em toda cidade que não planeja seu crescimento bairros adjacentes cresceram ou surgiram de forma desordenada e sem receber as políticas de desenvolvimento urbano. São bairros populosos como Aroeira, Malvinas e Botafogo que não recebem uma estrutura mínima para garantir o bem estar social. Como: postos de saúde, creches e escolas, além de transporte público de qualidade.
O lado norte concentrou a maior parte da população da cidade, grandes bairros como Barra, Aeroporto e Lagomar estão sempre em destaque, pois protagonizam as mazelas da cidade. Problemas de abastecimento de água, esgoto não tratado, transportes lotados e postos de saúde que não atendem os casos com média ou alta complexidade deixam os moradores com a certeza do abandono e da mesma forma, estes moradores, tornam-se alvo das especulações políticas. Política que sempre chega mas nunca garante efetivação das promessas feitas.
Portanto a cidade continua divida e se apresenta, a quem decide circular de norte a sul, como um espetáculo de desigualdades de exemplo como o Parque Valentina Miranda( lado sul) e a Nova Holanda (lado norte)