sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Um Visionário na Corte de D. João V. Cap. V De: Adriana Romeiro.

Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Macaé
Graduação em História







Bruno Botelho Horta
Quarto Período







Um Visionário na Corte de D. João V
Cap. V
De: Adriana Romeiro.
Matéria: Historia do Brasil Colônia
Professor: Meynardo.







Macaé/RJ
Outubro de 2011.


Pedro de Rates Hanequim é um português que no Brasil se tornou um minerador. Suas práticas o levaram a ser acusado, preso e morto por crime de Lesa-Majestade. Hanequim era milenarista e acreditava na vinda do quinto reino para o Brasil. Crenças que o colocava diretamente em conflito com o governo português. Seu caso foi conduzido em segredo e os registros destruídos. Fato que dificultou o trabalho de historiadores que pesquisaram seu caso. As partes das investigações que puderam ser esclarecidas sobre o episódio, deixaram claro que Hanequim ou havia agido sozinho ou ocultou seus cúmplices.
O desembargador Santa Marta, responsável pelo caso de conspiração, restringiu sua área de ação limitando suas investigações somente a este aspecto e encobrindo provas documentais do processo de Hanequim. É entendendo sua cultura e sua política que estava ambientada em Minas Gerais é que podemos entender o que se passava nessa região.
Para entender o ambiente em que Hanequim circulava é preciso entender que ele vivia sob um viés subversivo que seu pensamento foi construído na relação com letrados e acadêmicos.
Dos poucos registros que restaram da inquisição de Hanequim, o que se pode confirmar é que ele permaneceu por cerca de vinte anos na região de Sabará, Vila Rica, Serro Frio, Ribeirão do Carmo, entre outras. O interessante é observar que o regime de D. João V teve grande preocupação em apagar todos os vestígios do ocorrido com o mineiro Hanequim, provavelmente para manter a estabilidade do regime e impedir que idéias inconfidentes tomem conta do pensamento popular. Principalmente em uma região rica em ouro e diamantes. Durante seu interrogatório em Portugal foi constatado que o auxilio do padre Inocêncio de Carvalho era verdadeiro e que também o ouro descoberto e minerado por ele foi quintado de acordo com a lei portuguesa, mostrando que seus atos estavam todos dentro da lei.
O caso de Hanequim revelava implicações maiores e que demonstravam a complicada política econômica na colônia no início do século XVIII. Uma testemunha citada por Hanequim, durante o processo de inquisição, foi o capitão mor João Ferreira dos Santos. Dono de uma sesmaria na região do Caeté, ele foi influente na região ajudando com escravos no combate a invasão francesa no Rio de Janeiro, onde conseguiu seu título militar. Suas atividades auríferas foram exercidas de forma ilegal, falsificando o selo real sonegou impostos à coroa portuguesa, foi preso e condenado. Não foi queimado por uma manobra legal onde conseguiu provar que reconhecendo o crime e fornecendo informações a seus inquisidores poderia reduzir sua pena. Conseguiu escapar da morte e do exílio em Angola, permanecendo em Lisboa. O caso do capitão revela que grandes manobrar ilegais ocorriam na região para lesar a coroa na taxação do ouro. Por ser um minerador Hanequim, que viveu na mesma região que o capitão, certamente conviveu com ele, mas o capitão negou conhecer o condenado Hanequim. Provavelmente por temer se envolver em ainda mais problemas com Portugal.
Para fugir do casamento Hanequim chegou a usurpar a identidade de Frei Simão de Santa Teresa. Este frei que realmente habitava a região. Era um religioso culto e pagador de impostos, além de ter uma participação importante na guerra dos emboabas. O frei ocupou funções de destaques no governo ilegítimo dos emboabas. Certamente uma estratégia pra fugir do controle da coroa portuguesa e de sua dominação.
Oficialmente Hanequim chegou a ser registrado em um livro de pagamento de impostos na Vila de Sabará entre 1714 e 1715, descartando assim, a possibilidade de sempre utilizar nomes falsos para escapar de alguma perseguição real. Os registros sempre foram muito contraditórios. Durante o tribunal do ofício testemunhas alegaram que Hanequim possuiu grandes posses e outras já afirmavam que ele nada tinha. Sua vida foi marcada por uma grande variedade de acontecimentos, onde Hanequim demonstrava sua inteligência e capacidade de adaptação. Tentou assumir a responsabilidade da descoberta do ouro para os espanhóis, participou de estudos das escrituras e foi escrivão em Rio das Velhas entre 1709 e 1710 onde atuava no ato de apreensão de entrada ilegal de mercadorias em Minas Gerais.
Acredito ser uma estratégia de Hanequim, onde ao pagar e impostos e trabalhar em serviços oficiais proporcionava a ele uma aparência de legalidade, para esconder seus atos revolucionários contra a coroa portuguesa.
Foi ainda no início do século XVIII que Portugal intensifica as ações de controle sobre sua colônia e a região das minas sofre intenso combate aos desvios de pedras preciosas. Uma das medidas é a proibição de comércio com a Bahia e posteriormente a instauração de postos de controle para selar o ouro. Portugal precisava explorar ao máximo esse empreendimento de metais preciosos e coibir movimentos revoltosos que foram surgindo e sendo debelados, como foi a guerra dos emboabas.
É importante notar como o governo colonialista estabelece uma hierarquia de imposição do poder. Os governadores nomeados pela coroa nomeiam seus assessores, que por sua vez possuem outros assessores que até quando não remunerados tem grande interesse em ocupar um cargo oficial. Como no caso de uma carta régia de 7 de maio de 1703, autorizando que a superintendência nomeasse os guardas mores sem a obrigação de aprovação do rei. Estes “registradores” não possuíam salários, só recebiam de acordo com os emolumentos que praticavam, mas era um cargo de boa visibilidade social, mas que ainda assim, permanecia sob os domínios da coroa portuguesa e precisavam trabalhar de acordo com os interesses do rei..
Hanequim viveu em um mundo em que ele construiu com seus conhecimentos religiosos e milenaristas, acreditava em uma América longe dos domínios de Portugal. E justamente por isso pagou com a vida perante a inquisição. A imposição do regime colonial não poderia permitir que idéias separatistas, ainda mais em uma região aurífera, progredissem. Era uma clara ameaça a ordem vigente do antigo regime.

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