quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Honduras por Moisés Pires Teixeira.

FAFIMA






CURSO DE HISTÓRIA


Honduras



Disciplina: História da América Latina no contexto capitalista

Professor: Victor Tempone.

Aluno: Moisés Pires Teixeira.




_________________________________ 2011 ___________________________________

FAFIMA.

Professor: Victor Tempone.

Aluno: Moisés Pires Teixeira.



1. As heranças da América Latina


Sob o nome de América Latina foram inicialmente agrupadas as sociedades em que a língua dominante tinham origem no latim, como é o caso do português e do espanhol, principais povos colonizadores da América Continental. Esse território compreende desde o México até o extremo sul da América do Sul.
A expressão América Latina refere-se também a países onde se fala inglês, como a Jamaica, ou Holandês, como o Suriname. Isso acontece porque o critério passou a levar em conta outros aspectos: predominância da religião católica e o desequilíbrio das condições socioeconômicas da população, com muitos de seus habitantes vivendo abaixo da linha de pobreza.
A maior parte dos países da América Latina pertence ao grupo dos subdesenvolvidos. Caracterizados pelo baixo desenvolvimento econômico, muito deles produzem e exportam matérias-primas agropecuárias ou minerais para os países desenvolvidos e importam tecnologia e produtos industrializados.
Apenas três países latino-americanos podem ser considerados em desenvolvimento: Brasil, Argentina e México. Eles têm parques industriais e economia diversificada. Em contrapartida, países como o Haiti, Honduras e Nicarágua têm como base de sua economia os produtos primários, como minérios e itens agropecuários.
A América latina encontrou, desde a segunda metade do século XIX, dificuldades para concretizar suas comunidades nacionais. Diferentes correntes modernizadoras, entre elas o cientificismo, se defrontaram com correntes nacionalistas, preocupadas com a identidade, com o passado representado pelas culturas indígena e ibérica. É nesse quadro histórico-cultural que são mencionadas as relações de identidade e de diferenciação entre os países da América Latina.
É difícil não falar dos antecedentes históricos de uma área tão explorada, mesmo delimitando um período histórico para esse fim. As heranças deixadas pelos colonizadores se fazem presentes até aos dias atuais. Assim, os Estados nacionais latino-americanos foram marcados, desde a independência política por sua herança colonial de países exportadores de produtos primários. Assim as antigas colônias continuaram economicamente dependentes das nações industrializadas.
Tal região permaneceu sujeita às crises econômicas internacionais, cujas repercussões provocaram freqüentes períodos de instabilidade social e política, dificultando o desenvolvimento latino-americano. A propriedade de terras e minas permaneceu nas mãos de uma pequena oligarquia, que se interessava pouco pelo desenvolvimento técnico mantendo a dependência econômica da América Latina.
A formação de uma elite executiva, capaz de programar o projeto desenvolvimentista para toda a América Latina, comprometida com os interesses gerais da nação e atuando acima dos interesses dos diferentes grupos, marcou o período dos anos 1950 em diante. Foram feitos esforços para formar uma burocracia/tecnocracia capaz de levar adiante as idéias de desenvolvimento, de promover a modernização do continente, e isso permitiu a emergência de um conjunto de questões e temas, que tornou possível uma conversa entre profissionais e intelectuais de vários países latino-americanos.
A suposição era que o processo de modernização em curso faria desaparecer não só o subdesenvolvimento, mas também os desequilíbrios regionais e as injustiças sociais. Eliseo Verón, em artigo crítico em relação à Sociologia do desenvolvimento (América Latina, n. 4, 1968), faz um balanço das pesquisas em curso na América Latina, apontando três tipos: a) aquelas que reuniam dados sobre a estrutura social (estratificação, mobilidade, urbanização e industrialização; b) aquelas centradas em aspectos particulares da estrutura social e que permitiam avaliar os recursos disponíveis para o desenvolvimento (educação primária, secundária e universitária, capacitação profissional, incorporação de migrantes à vida urbana, entre outros; c) pesquisa sobre atitudes e opiniões. Para Verón, entretanto, essa sociologia, elaborada, sobretudo nos Estados Unidos, envolvida na produção de índices múltiplos para classificar países como "em vias de desenvolvimento", não estaria sendo capaz de ver a realidade.
O colapso das chamadas “economias cíclicas”, que até então haviam dominado o cenário econômico, determinou o início do processo de reestruturação das economias latino-americanas. Essa reestruturação vinculou-se à aceleração do processo de industrialização, que foi beneficiado pelos seguintes fatores: diminuição das receitas decorrentes da exportação, a possibilidade de importar máquinas de “segunda mão”, aceleração do êxodo rural aumentando a concentração urbana e proporcionando mão de obra e mercado consumidor para a industrialização, além da intervenção estatal.
A modernização da economia e a crescente urbanização se fizeram acompanhar de uma modernização, ainda que conservadora, das próprias instituições políticas. Foi nesse contexto que se inseriu o fenômeno político-social do populismo na América Latina. Conforme observou a historiadora Maria Lígia Prado: “alguns autores partem do pressuposto de que o populismo ocorre numa situação de “transição”, isto é, na passagem da assim chamada sociedade tradicional – agrária, pré-capitalista, atrasada – para a sociedade moderna – capitalista, urbana e industrial”. (Prado, 1981, p. 10).
De maneira geral, o populismo latino-americano apresentou as seguintes características: relações de classe mais complexas entre o capital e o trabalho, cabendo ao Estado o papel de mediador e ao mesmo tempo agente modernizador, respostas aos anseios políticos das camadas populares por parte do Estado, desenvolvimento de extensa legislação trabalhista, apelo ao nacionalismo, o “culto” à personalidade dos chefes de governo por meio de intensa propaganda e controle do movimento sindical.
Mas foi nas décadas de 60 e 70 do século XX que os regimes populistas entraram definitivamente em colapso. Os fatores que explicam a desintegração dos regimes populistas na América Latina são os seguintes: a crescente desconfiança das elites e do capital estrangeiro ante aos avanços dos movimentos sindicais, o crescimento do movimento popular e social, a radicalização ideológica, o temor de ocorrer movimentos com tendências comunistas, a desestabilização política e econômica dos regimes populistas em função da retração dos investimentos estrangeiros, as intervenções militares, entre outros.
A experiência populista representou, pela primeira vez e ainda que de maneira controlada, um desafio às elites latino-americanas, pois possibilitou a incorporação das massas populares, tradicionalmente subjugadas, à cena política.
Como se vê, a história da América Latina é diversa. Mas segue uma linha clara: a da opressão iniciada quando Colombo e suas naus pisaram nas terras do Caribe – opressão que dizimou as populações indígenas e instituiu o caráter econômico e exportador das sociedades latino-americanas, o qual elas ainda não perderam. Até hoje, as desigualdades sociais que se multiplicam nesses países, aliadas a movimentos de guerrilha civil, crises econômicas cíclicas e dependência dos mercados internacionais, caracterizam a formação social destas terras e são o grande desafio a ser enfrentado no século XXI: a proposta de romper com o desenvolvimento regulado ou a submissão extrema para se construir um crescimento autônomo e integrado entre todas as nações continentais – o mesmo sonho de Simón Bolívar, quando, há quase dois séculos atrás, iniciou os movimentos de libertação que resultaram nos atuais países que compõem a América Latina.

2. Panorama da história geral de Honduras

A América Central, com 2% do continente americano, tem uma parte continental e outra insular. A primeira, o istmo, liga as duas grandes porções de terra e abriga sete países independentes, dentre eles Honduras – objeto dessa pesquisa.. A outra parte, um conjunto de ilhas denominado Caribe, constitui-se de 13 países.
Muito antes de falar dos principais acontecimentos, vale destacar a história de Honduras desde a época pré-colombiana, quando os maias habitavam este território, sobretudo na zona de Copán, na parte mais a oeste do país. Copán foi uma das grandes cidades hondurenhas antes da chegada dos espanhóis.
Honduras, séculos mais tarde, formava parte da província da Guatemala, em concreto desde 1812 até 1821 aproximadamente, na época em que a Constituição Liberal de Cadiz estava em vigor. Em 1821, Honduras tornou-se independente da Espanha, e o país formou parte do Império Azteca durante anos. Em 1838, Honduras tornou-se independente da República Federal da América Central e converteu-se num país livre e independente.
Esse novo status, longe de trazer paz a Honduras, trouxe diferentes guerras civis, guerras que levaram ao fundo a economia do país, uma crise da qual não só começou a sair em 1876 sob o governo liberal de Marco Aurélio Soto, depois foram os anos de melhoria, pequenas, é verdade, entremeadas continuamente por outras.
Com a emergência do Século XX, chegaram os americanos com a United Fruit Company, algo que proporcionou mudanças no país, mas também uma notável influência na sua política, o que não evitou novas crises e situações desagradáveis e tensas, com ditaduras militares, golpes de estado, zona de instabilidade... As conseqüências políticas da grande depressão foram diferentes em cada país, mas ficou evidente uma tendência para o nacionalismo e para as ditaduras de direita ou populistas. Os conflitos ideológicos mundiais, após 1945, refletiram-se nas revoluções da Guatemala, Bolívia e Cuba. A revolução cubana teve seguidores, nenhum bem sucedido. A economia de exportação primária foi modificada embora, embora não totalmente, pela depressão e pela Segunda guerra mundial.
A região permaneceu dependendo dos países desenvolvidos para a exportação de suas matérias-primas e importação de bens de produção, além de dependência em tecnologia e capitais. O crescimento demográfico tem sido tão rápido que nem a modernização da agricultura, nem a expansão industrial foram capazes de absorvê-lo. A reforma agrária não conseguiu transformar as condições do campo e nem deter a migração das populações rurais para as cidades.
Após a Segunda Guerra Mundial, fazendo uso de seu poderio econômico e militar, os EUA tornaram-se uma superpotência mundial, assumindo o papel de sustentáculo contra ameaça comunista e assegurando a preponderância da cultura popular americana no mundo.
Muitas nações da América Central e do Sul eram governadas por ditaduras militares, que restringiam severamente a liberdade de seus cidadãos. Após o final da década de 1970, os países da América Central e do Sul se voltaram para a democracia, mas a instabilidade econômica e a inflação crônica ainda são grandes problemas. Tudo isto até que em 1982 se produziram as que podemos chamar primeiras eleições livres nas Honduras, com Roberto Suazo como vencedor. Tinha nascido uma nova etapa na política das Honduras.
Em 1982 aprova-se a constituição hondurenha. Os Estados Unidos forçaram o governo hondurenho a ceder a utilização do seu território como base de atuação dos “Contras”, apoiados pelo governo norte-americano, em seu conflito contra Nicarágua sandinista. Concederam, também, importantes doações econômicas ao país, algo que foi convertido em gasto militar e que se traduziu em mais pobreza para o povo hondurenho, que via a economia do país se deteriorar.
Nos anos 90, o Presidente Rafael Leonardo Callejas chega ao poder e inicia um plano econômico para tratar de sair da crise, mas não consegue. Em 1994 o povo põe Carlos Roberto Reina no poder. Também não solucionou nada, mas o golpe maior foi o furacão Mitch, que ocasionou mais de 10,000 mortos e mais de 4 milhões de dólares em perdas.
No século XXI chega ao poder Manuel Zelaya, do Partido Nacional das Honduras. O país inicia um novo processo de reformas, com leves melhorias, até os nossos dias.
É nesse contexto que está inserido Honduras, um país da América Central Ístmica com a maior parte de sua população resultante da miscigenação entre indígenas e espanhóis. A baixa qualidade de vida, expressa pelas altas taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo, os grandes desníveis sociais e a elevada concentração de renda são características marcantes desse país.

3. Honduras – ponto de apoio militar dos EUA na década de 1980

Os anos 80 ainda são tempos de Guerra Fria. Os Estados Unidos insistem na luta contra Cuba e também contra a Nicarágua, que busca sua autonomia através da revolução sandinista. E, assim, com o mesmo velho discurso de combater o comunismo, Jimmy Carter manda para Honduras os seus “boinas verdes” para ajudar na defesa das fronteiras, uma vez que o país faz limite com a Nicarágua.
Além disso, os EUA abocanham mais de três milhões de dólares pela venda de armas e aluguel de helicópteros. Na verdade, lucram e ainda usam o exército hondurenho para realizar numerosas matanças de refugiados salvadorenhos e nicaraguenses.
É ali, em Honduras, que, com o apoio da CIA, se leva a cabo o treinamento dos “Contras” que, por anos, assolaram a revolução sandinista e o próprio governo revolucionário. Era o tempo em que um batalhão especial, liderado por um general hondurenho anti-comunista, promoveu massacres contra lideranças de esquerda de toda a região.
E assim, durante toda a década, apesar dos escândalos políticos e mudanças de mando, a “ajuda” estadunidense aos generais de plantão sempre se manteve impávida, com milhões de dólares sendo investidos nos acampamentos dos “Contras”, que somavam mais de 15 mil soldados.
Nos anos 90 a situação em Honduras era tão crítica que até a conservadora igreja católica passou a apoiar os militantes dos direitos humanos, que denunciavam estar o país à beira de uma guerra. A derrota dos sandinistas na Nicarágua refreou os ânimos, mas ainda assim, seguiram as denúncias de assassinatos e violações... No final da década, os governos neoliberais já haviam destruído as cooperativas de trabalhadores e devolvido terras às companhias estadunidenses. Nada mudava no país.
Assim, nos anos de 1980, com os sandinistas no governo da Nicarágua e o fortalecimento da guerrilha em El Salvador, Honduras tornou-se o foco central da política norte-americana na América Central continental.
A ajuda econômica e, sobretudo militar dos Estados Unidos ao país aumentou quase dez vezes nesse período. Honduras, sem tradição militar, viu-se em poucos anos transformada em centro militar norte-americano. Era a partir daí que os Estados Unidos combatiam direta e indiretamente os movimentos guerrilheiros na região.
A constante intervenção dos Estados Unidos no aumento das Forças Armadas ocasionou, ao longo da década de 1980, uma desigualdade de orçamento entre o setor militar e os setores voltados para o desenvolvimento social.
O poder militar foi predominante até o início dos anos de 1990, quando o governo eleito democraticamente começou a reduzir a interferência das Forças Armadas sobre o Estado.




4. A importância da memória social para a história local, regional e nacional com enfoque em Honduras.

A História por muito tempo utilizou personagens heróicos e/ou polêmicos como também fatos considerados importantes para descrever períodos de transformações sociais. Muitos desses relatos se baseavam nas opiniões da elite, deixando de lado as experiências de mulheres e homens consideradas pessoas comuns: “... não crer que somente os atores que fazem barulho sejam os mais autênticos, há outros e silenciosos...” (BRAUDEL, 1992, p. 59).
Esse foi o motivo principal que fez com que esse trabalho fosse escrito considerando a experiência vivida pelos movimentos sociais de Honduras. Vários autores acreditam que a preferência na escolha de heróis como principais atores é devido à existência de poucas fontes sobre pessoas comuns: “Em geral, entretanto, para trás vão os historiadores, buscando reconstruir a experiência das classes sociais inferiores, mais restritas se tornam à variedade das fontes a disposição” (SHARPE, 1992, p. 43),
Geralmente, por não ter sido valorizada durante muito tempo, essa história foi se perdendo ou apenas ficou restrita à memória de algumas pessoas que a viveram ou a ouviram através da história oral; comparando com os arquivos criados pela burocracia, podem ser utilizados como fonte para comprovar com documentos, as experiências de pessoas comuns. “Hobsbawn citou a ação conjunta da massa populacional e os arquivos criados por ‘uma vasta e diligente burocracia’, que documentava os atos das pessoas comuns e depois passou a classificar e preencher seus registros ‘em beneficio do historiador’ ”. (SHARPE, 1992, p. 46).
Vale salientar que as histórias de alguns dos movimentos sociais hondurenhos aqui foram contextualizadas com as informações oficiais buscadas no capítulo anterior, para que não se caísse na subjetividade e para que sirva de um instrumento que faça expandir o conhecimento acerca da época analisada, a partir de 1950 até os dias atuais. “A história é a soma de todas as histórias possíveis – uma coleção de misteres e de ponto de vista, de ontem, de hoje, de amanhã”. (BRAUDEL, 1992, p. 53),
Por isso, foi fundamental construir essa perspectiva histórica sobre a base da fusão entre o cotidiano vivido pelas pessoas e a história acadêmica. Sabe-se que a memória de uma sociedade é uma das formas mais eficazes de construção de sua identidade cultural, que faz despertar um sentimento de maior participação dos cidadãos:

..., a história vista de baixo abre a possibilidade de uma síntese mais rica da compreensão histórica, de uma fusão da história da experiência do cotidiano das pessoas com a temática dos tipos mais tradicionais da história. (SHARPE, 1992, p. 53 e 54).

Essa outra visão histórica também pode contribuir para a formação de identidades, pois pessoas ou grupos sociais que achavam que as experiências vividas por seus antepassados tinham desaparecido na dimensão da história oficial, acabam revivendo e/ou conhecendo e entendendo muito mais a sua vida pessoal e coletiva. “Ela proporciona também um meio para reintegrar sua história aos grupos sociais que podem ter pensado tê-la perdido, ou que nem tinham conhecimento da existência de sua história”. (SHARPE, 1992, p. 59).
Conhecendo a história vista por esse ângulo, as pessoas que compõem os grupos que não são da elite podem se interessar mais pela leitura e fazendo assim nascer um sentimento de pertencimento e de orgulho por saber que participaram ativamente da história do seu lugar de vivência. “A história vista de baixo ajuda a convencer aqueles de nós nascidos sem colheres de prata em suas bocas, de que temos um passado, de que viemos de algum lugar”. (SHARPE, 1992, p. 43).
E em Honduras há muitas pessoas que viveram as transformações sociais, econômicas, políticas e urbanas que podem ser utilizadas, através de suas memórias históricas, para trazer conhecimento sobre a história da cidade de um ponto de vista talvez ainda não analisado. “É preciso abordar, em si mesmas as realidades sociais. Entendendo por isso todas as formas amplas da vida coletiva, as economias, as instituições, as arquiteturas sociais, as civilizações enfim...” (SHARPE, 1992, p. 25).
Ignorar as memórias dessas pessoas comuns é dizer que somente a elite participou do processo de construção e desenvolvimento de Honduras. Ao ouvir as pessoas comuns, pode-se perceber que tiveram uma participação bastante ativa no processo de construção histórica, não somente do local onde atuaram, mas também na do país em diversos momentos, como na Ditadura Militar e até mesmo antes, buscando seus direitos através de sua organização nas greves que realizaram. Assim,

A memória, para prolongar essa definição lapidar, é uma reconstrução psíquica e intelectual que acarreta de fato uma representação seletiva do passado, um passado que nunca é aquele do indivíduo somente, mas de um indivíduo inserido num contexto familiar, social, nacional. (ROUSSO, 2005, p. 94).

Fica evidente que a memória de pessoas consideradas comuns servirá como fonte histórica de suma importância para completar as informações oficiais e assim poder contribuir com um conhecimento mais completo e contextualizado. “... a história pertence, sobretudo àqueles que a viveram e que ela é um patrimônio comum que cabe ao historiador exumar e tornar inteligível aos seus contemporâneos”. (ROUSSO, 2005, p. 98).
Através dos relatos, ou seja, da historia oral, a memória das pessoas vai sendo passada de geração a geração, por isso é importante confrontar as memórias de um grupo que viveu num mesmo espaço e período histórico para que a analise possa ser mais completa:

Esses historiadores orais consideram a fonte oral em si mesma e não só como mero apoio factual ou de ilustração qualitativa. Na prática, eles colhem, ordenam, sistematizam e criticam o processo de produção da fonte. Analisam, interpretam e situam historicamente os depoimentos e as evidências orais. Complementam suas fontes orais com as outras fontes documentais tradicionais no trabalho historiográficos. Não se limitam a um único método e a uma técnica, mas a complementam e as tornam mais complexas. (LOZANO, 2005, p.23).

Trata-se de saber utilizar a análise micro-histórica, que busca o contexto histórico-social a partir das experiências de um indivíduo a fim de atrair leitores, porém utilizando documentos oficiais para isso. “O livro de Ginsburg deve ser considerado um caso extremo do método micro-histórico, visto que se preocupa em reconstruir as idéias, a visão do cosmo de um único indivíduo”. (BURKE, 2002, p. 61).
A partir desse foco, o autor pode tentar interpretar toda uma cultura da época do individuo analisado. Assim ao entrar nas memórias de alguns ferroviários, muitos fatos nacionais foram se deparando com os locais, imprimindo o sentido de uma cultura comum. Segundo Peter Burke (2002, p.46): “Se não aspiram mostrar o mundo em um grão de areia, esses historiadores garantem que tiram conclusões gerais a partir de estudos de dados locais”.
No caso de Menocchio, personagem de Ginsburg, um moleiro que desafiou a ordem da inquisição no século XVI ao dizer que o mundo se originou da decomposição. Neste caso, a análise foi feita para chegar à compreensão de um período histórico que contém muitos dados oficiais, mas com poucas evidências individuais e que são de extrema importância para não se ficar restrito aos pensamentos da elite dominante da época. “Todavia, em plena Contra – Reforma, as modalidades de exclusão eram outras – prevaleciam a identificação e a repressão da heresia”. (GINSBURG, 1997, p. 44).
Geralmente, o indivíduo é a cara da época vivida por ele e a pessoa que é considerada diferente pode ser utilizada como objeto de estudo para entender melhor o contexto de sua geração. Assim,
Essa utilização da biografia repousa sobre uma hipótese implícita que pode ser assim formulada qualquer que seja a sua originalidade aparente, uma vida não pode ser compreendida unicamente através de seus desvios ou singularidades, mas, ao contrário, mostrando se que cada desvio aparente em relação às normas ocorre em um contexto histórico que o justifica”. (Levi, 2005, P. 176)

Assim, as memórias dos atores sociais, além de servirem para compreendermos as épocas de maior importância de Honduras, podem completar lacunas que fazem parte da história nacional contribuindo, assim, com um conhecimento mais abrangente.

5. Zelaya e o golpe de Estado

Manuel Zelaya foi eleito presidente em 2005 pelo Partido Liberal, mas esteve em cargos importantes durantes os últimos governos. Era, portanto, um homem do sistema. Seus problemas com os Estados Unidos começaram em 2006, quando decidiu reduzir o custo do petróleo, passando a discutir com Hugo Chávez, da Venezuela, a possibilidade de negócios conjuntos, o que acabou culminando, em janeiro de 2008, com a entrada de Honduras na órbita da Petrocaribe, um acordo de cooperação energética que busca resolver as assimetrias no acesso aos recursos energéticos.
Este acordo incluiu Honduras na lógica da ALBA, a Alternativa Bolivariana para as Américas, projeto de Chávez em contraposição à ALCA, que tentava se impor a partir dos Estados Unidos. A proposta de Chávez foi a de vender o petróleo a Honduras com pagamento de apenas 50%, sendo a outra metade paga em 25 anos, com um juro pífio, permitindo assim que Honduras investisse em áreas sociais. O plano, apesar de bom para o país, foi duramente criticado pela classe política. E os Estados Unidos perderam um parceiro de TLC (os mal fadados acordos de livre comércio), o que provocou tremendo mal estar em Washington.
Assim, a crise em Honduras, que levou à retenção e ao exílio do presidente Manoel Zelaya, teve origem no seu enfrentamento com o Congresso, o Exército e o Judiciário. O presidente queria que houvesse, antes das eleições, uma consulta para mudar a Constituição. Seus críticos diziam que Zelaya pretendia se reeleger, algo que não é permitido pela Constituição.
O Congresso impediu essa consulta nos 180 dias anteriores e posteriores à data das eleições; além disso, Zelaya tinha retirado do cargo o chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, o qual havia se negado a apoiar a consulta popular. Assim, os outros comandantes militares também renunciaram.
O cenário mais provável é que, configurado o apoio popular e também o apoio da comunidade internacional, o presidente Zelaya colocasse para correr os golpistas e inaugurasse um novo tempo em Honduras. Caso tivesse sido assim, teria enfraquecido o domínio dos Estados Unidos na região e crescido o fortalecimento da Aliança Bolivariana dos Povos da América Latina.

6. Corrupção e movimentos sociais pós golpe de Estado

O Congresso Nacional de Honduras aprovou contratos de produção de energia, o que provocou a resistência dos povos indígenas e afro caribenhos, além de vários órgãos sociais, pois eles garantem os lucros milionários apenas para grandes empresários e pequenos grupos e mais miséria para a localidade explorada.

“Existem em Honduras 35 bacias hidrográficas primárias e seus rios se agrupam em duas vertentes costeiras: a do Caribe e a do Golfo de Fonseca. Só as bacias dos rios Patuca e Ulúa cobrem uma área de 25 mil e 22 mil km², respectivamente. Uma riqueza hidrográfica que agora corre sério perigo.”

Após o golpe de Estado que derrubou o Presidente Manuel Zelaya, o Congresso Nacional aprovou a Lei Geral de Águas, que dá o direito de conceder a terceiros os recursos hídricos do país. Segundo alguns moradores, não ocorreu licitação e sim um acordo manipulado entre as partes e que favorece os empresários. Além disso, as comunidades onde os projetos serão desenvolvidos nunca foram consultadas.

Foram revogados decretos ambientais que protegiam essas zonas. Agora poderão devastar matas, inundar as áreas dos rios, contaminar as águas, com fortes impactos nos aquíferos e na distribuição das águas subterrâneas.

A organização indígena e popular iniciou também uma longa viagem por todo o território nacional, visitando povoados e comunidades para organizar a resistência aos projetos e "exigir que se respeite sua decisão e o rechaço à privatização dos recursos naturais".
Nas principais vias de passagem da população, militantes contrários ao golpe colhem assinaturas para a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. Até o momento, mais de 600 mil cidadãos subscreveram o manifesto. A expectativa da FNRP é coletar 1,2 milhão até setembro.
Em 28 de junho de 2009, os hondurenhos iriam às urnas para decidir se, nas eleições gerais de novembro do mesmo ano, haveria também uma consulta sobre a instalação ou não de uma constituinte. Mas o pleito foi frustrado pelo sequestro do presidente Zelaya, surpreendido de pijama na residência oficial e levado à Costa Rica.
Mesmo diante do entusiasmo nacional em torno da participação pífia da seleção nacional na Copa do Mundo pela segunda vez, as mobilizações não cessaram. Quase todos os dias há algum tipo de vigília ou marcha para pressionar pelo fim ao que os movimentos hondurenhos chamam de falsa democracia.
O direito à livre manifestação – parcialmente assegurado pelo regime hondurenho – pode trazer a imagem de uma redução da repressão. No entanto, os movimentos sociais denunciam constantes ameaças a dirigentes, prisões e assassinatos. Estes últimos têm crescido de forma assustadora na capital, em San Pedro Sula e outros centros urbanos.
A resistência continua forte e como a maior força social do país, porém, sofre com cisões. O então partido de esquerda União Democrática (UD), por exemplo, não boicotou as eleições pós-golpe, como clamavam as organizações sociais. Como resultado, obteve a pior votação de sua história, amargando a última colocação. Antes, a UD era a terceira força política do país, atrás do Partido Nacional e do Partido Liberal – uma confusa agremiação que abriga, ao mesmo tempo, políticos golpistas e pró-Zelaya.
Em momento de crise, marcado por perguntas difíceis de serem respondidas ao calor dos fatos, não deve nos esconder, todavia, da necessidade e da responsabilidade de realizar uma reflexão crítica e em perspectiva histórica sobre os desafios que a América Latina deverá enfrentar para sustentar nas próximas décadas suas conquistas democráticas.
A América Latina nasceu para poucos desfrutarem da riqueza da terra e do trabalho de muitos. O sangue das "veias abertas" do continente é um manjar que alimenta o crescimento das potências e das elites locais, mas também faz-se veneno que mata a população de sua terra.
No entanto, esse continente, mesmo protagonizando uma história trágica e permeada da exploração, elites de interesses limitados e governos repressores, nunca deixou de ter esperanças de mudar. Afinal, a América Latina também protagonizou acontecimentos que tentaram desviar o rumo da história e soam até hoje como esperanças de transformação.
São casos como a Revolução Cubana, ocorrida há 40 anos, e a atual guerrilha zapatista no México que ainda permitem o sonho em uma terra melhor. Como disse Marx, a respeito do processo histórico, são os homens que fazem a história, na sua luta diária pela sobrevivência e pelo bem-estar. Assim, somente a luta do povo latino-americano, após séculos de exploração e pobreza, poderá libertar o continente das amarras que o oprimem, desenvolvê-lo em suas potencialidades e, principalmente, dar-lhe uma cara latino-americana, ou seja, voltada às necessidades de seu povo. E, para incitar essa reflexão, apresenta-se agora alguns dos movimentos que tentaram mudar a ordem das coisas no continente.








REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1992.
BURKE, Peter. História e teoria social. São Paulo: Ed. da UNESP, 2002.
BRIGNOLI, Héctor Pérez – América Central: da colônia à crise atual. São Paulo, Editora Brasiliense, 1980 – Coleção Tudo é História.
BRUIT, Héctor H. Revolu – Revoluções na América Latina.São Paulo, Atual, 1988.
GALEANO, Eduardo – As veias abertas da América Latina. São Paulo, Editora Paz e Terra, 1971.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras, 1987 [1976].
HOBSBAWM, Eric. Tempos interessantes. Uma vida no século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. P 416-417.
LE GOFF, Jacques. História e memória. São Paulo: Unicamp, 1992.
LOZANO, Jorge Eduardo Aceves. Prática e estilos de pesquisa na história oral. In: FERREIRA, Marieta de Morais; AMADO, Janaína (orgs). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 2005, p. 17-25.
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ROUSSO, Henry. A memória não é mais o que era. In: FERREIRA, Marieta de Morais, AMADO, Jonaína (orgs). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 2005, p.93-101.
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http://mundorama.net/2009/06/30/crise-politica-e-golpe-de-estado-em-honduras-e-o-retroce - acessado em 21/ 11/ 2011 as 22:00

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