sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Ensino no Brasil. Conquistas pontuais, avanços particulares e atraso para todos.

Ensino no Brasil.
Conquistas pontuais, avanços particulares e atraso para todos.


Poucas coisas incomodam mais do que mais do que a repetição desnecessária, o discurso fácil, a falta de ação e o falso compromisso assumido. Visitando os sites mais acessados do Brasil pude observar algumas manchetes referentes a educação brasileira. São elas:
Prova ABC mediu quantas crianças do 3ª ano sabem somar e subtrair.
Na escola privada, 75% atingiram mínimo esperado; na pública, 32%. (G1 – 26/8/2011)
A notícia é assustadora em todos os aspectos. Primeiro porque na caríssima rede particular de ensino brasileira, onde a educação é levada de forma mercantil e a relação é baseada no vendedor X cliente. Os resultados são cobrados de forma cruel sobre os alunos que, mesmo assim, apresentam resultados de apenas 75% e não próximos dos 100%. Os índices das escolas particulares não estão, ao menos, próximos dos índices da educação pública de países desenvolvidos. Já o indicativo de 32% da educação pública reflete exatamente a qual é o verdadeiro interesse do governo em relação a educação.

Universidade Federal de Juiz de Fora abre as inscrições para o vestibular. Prazo de inscrição se encerra no dia 19 de outubro. Enem será usado como a primeira etapa do processo seletivo. (G1 – 26/08/2011)
Uma manchete que aparentemente trás uma normalidade e um avanço, pelo uso do ENEM como o principal fator de avaliação, e assim atingindo uma política de avaliação unificada. Na verdade trás no corpo da matéria a obrigatoriedade do pagamento da taxa de inscrição de cem reais para participar do vestibular. Tratando-se de uma universidade pública, de ensino gratuito, vem a pergunta: Porque o pagamento de taxa de inscrição? Ou oferecemos um ensino realmente publico ou paramos com a falsa propaganda do ensino para todos. Certamente muitos deixarão de participar do processo por falta de condição de pagar a taxa de inscrição. E ainda, no decorrer do processo de formação, certamente outros alunos de menor poder aquisitivo deixarão seus cursos. Pois o ensino público e “gratuito” não garante a gratuidade de passagens, refeições, livros e estadias.

Estudantes invadem reitoria da UFSC (UOL – 25/08/2011)
Em protesto pelo corte do numero de vagas, pela falta de estrutura física e em apoio a greve dos servidores administrativos. Esse movimento que acompanha os estudantes de forma mais intensa desde a década de 60 nunca conseguiu de fato mudar os rumos da educação no país. As conquistas pontuais que conseguiram avanços transitórios logo foram atropeladas por políticas educacionais que nunca tiveram qualquer sentido de continuidade. Trocas de reitores, secretários, ministros, presidentes sempre resultaram na troca de políticas educacionais, mudanças de orçamentos e ajustes econômicos. Nunca houve um continuísmo, um planejamento em longo prazo e uma verdadeira preocupação com o futuro da educação e não apenas dos atuais estudantes.

Prefeito em 'greve' fecha escolas e postos de saúde em AL. (Terra – 25/08/2011)

Em uma disputa política entre a prefeitura e a câmara dos vereadores na cidade de Paulo Jacinto – AL. O prefeito em forma de protesto fechou escolas e postos de saúde deixando sem assistência mais de mil moradores da cidade. Como os professores irão explicar tamanho absurdo aos seus alunos? Qual exemplo de atitude diante dos problemas estes alunos e professores terão? Os alunos querendo ir à escola para estudar. Os professores querendo trabalhar e os dois principais elementos da educação impedidos por vontade de terceiros. Terceiros sim; afinal os governantes são facilitadores do processo educativo e não um elemento fundamental para que a educação aconteça. E qual será o argumento quando os professores resolverem fazer a sua justa greve?
Baixa escolaridade amplia desemprego de jovens em São Paulo. Números mostram que o aumento da taxa afetou mais os que não têm ensino médio. (R7 – 25/08/2011)

Esse é o reverso da educação inclusiva. É a segregação dos excluídos e a valorização dos escolhidos. As classes que não tiveram acesso a educação são taxadas como incompetentes ou indolentes e são involuntariamente conduzidas a segregação educacional, são colocadas em bolsões de miséria, também educacional, e lá trancadas e isoladas. As insipientes politicas educacionais atingem quase que exclusivamente a quem está inserido no sistema educacional ou que participa ativamente dele. Para os excluídos do sistema ou aos que vivem dentre dele, mas de forma não participativa, o que sobra são raras políticas inclusivas. E nessas políticas, que deveriam receber o maior aporte de investimentos são justamente as que são deixadas para o serviço de voluntariado ou aos que estão na base mais insuficientemente remunerada do sistema educacional. Isto é, os profissionais que atendem aos excluídos e tem a missão de tentar resgatá-los são os piores remunerados de todo o sistema educacional.

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