terça-feira, 17 de agosto de 2010

A comunidade de pescadores de Copacabana: um olhar integrador, relacional e multiterritorial


A comunidade de pescadores de Copacabana: um olhar integrador, relacional e multiterritorial.  (Gianella, Letícia de Carvalho. Entre o Mar e a             metrópole: desenvolvimento, território e identidade da comunidade de pescadores de Copacabana, Rio de Janeiro, RJ.)




  • Vivem permanente tensão entre a tradição e a modernização. Tradição e modernidade.
  • Não há um consenso em categorizar a comunidade enquanto comunidade tradicional.
  • Somente uma análise da multiterritorialidade experimentada pelo grupo pode evidenciar seu lugar na sociedade.
  • Enquanto não pudermos refletir sobre a condição multiterritorial de sua existência, continuaremos a errar no sentido de tentarmos catalogar o grupo a fim de transformar sua realidade. A resignificação das idéias de comunidade e tradição se faz necessária.
  • Foram alencadas as múltiplas vivências territoriais do grupo, procurando identificar seus entrelaçamentos e processos de amalgamização, com o objetivo de decifrar sua experiência multiterritorial.


  • Abordagem naturalista: Possui como base as relações entre sociedade e natureza.
  • A comunidade de pescadores de Copacabana possui uma óbvia relação íntima com o mar: Fonte de seu trabalho, sua renda, sua vida.
  • Ao mesmo tempo em que há uma assimetria que parte da dominação do pescador sobre o ambiente, há também a dominação que provem do mar sobre o pescador.
  • A relação do pescador com o mar e também influenciada pela ação de outros atores que fazem uso do ambiente marinho de alguma forma, muitas vezes disseminando injustiças.
  • Isso compreende uma espécie de dominação do mar sobre o pescador, contrária a apropriação do mar pelo pescador. Identificamos aí uma relação de poder.
  • Essas relações com base  na relação entre sociedade e natureza, constituem uma das múltiplas dimensões de análise da multiterritorialidade experimentada pela comunidade. A territorialidade aqui, é caracterizada como a mediação entre o mar e o pescador.
  • A relação do pescador com o mar é baseada no uso, nas forças produtivas e nas relações de produção. São essas forças que numa abordagem econômica configuram o território, ou seja, um lugar e meio de produção social, usado, organizado e gerido por sujeitos sociais, políticos e econômicos.
  • Configuram-se aí múltiplas relações de poder e ao mesmo tempo de partilha, nos níveis mais diversos. À medida que há relações desiguais entre os pescadores e entre os pescadores e os proprietários de embarcações, há relações de poder explicitas.
  • Também há relações de poder que variam entre quem trás o peixe e quem está atrás do balcão vendendo o peixe.
  • O frigorífico possui equipamentos que podem conservar o pescado por mais tempo, deixando o pescador em desvantagem que depende da venda do peixe fresco. Logo há uma espécia de relação competitiva entre ambas as instituições.
  • Na visão naturalista, sobre o ponto de vista econômico, verificamos uma disputa pelos cardumes com barcos maiores e mais potentes que realizam outros tipos de pesca muito mais agressivos, como a pesca de arrasto.
  • Temos instituições publicas que inter-relacionam-se com a atividade pesqueira, ou seja, o uso produtivo do espaço marítimo que configura um território. O IBAMA é a principal delas, pois seria a instituição responsável por fiscalizar.
  • No que diz respeito ao território da comunidade sob a perspectiva jurídico-política. Aonde o controle do espaço, teoricamente, viria da diretoria da colônia. A relativa desarticulação dos pescadores impede a existência de uma diretoria forte. O que faz que aquela porção do espaço seja o território do pescador.
  • Continuando em uma perspectiva naturalista e econômica. O território é um produto do entrelaçamento entre as redes que organizam o espaço dos pescadores.
  • Na relação de rede local de sujeitos com sujeitos de outros lugares, encontramos a hibridização de culturas variadas.
  • Aqui se torna necessário considerar o fato de estarmos lidando com uma comunidade de pescadores singular, onde os trabalhadores do mar retornam para suas casas ao final da jornada e tais moradias se situam nas partes mais diversas e distantes da cidade, originando múltiplos processos de territorialização.
  • Desta maneira torna-se clara a multiterritorialidade vivenciada pelo grupo.
  • A territorialidade nesta primeira dimensão de interações ainda envolve as relações de poder vivenciadas diretamente pelo grupo.
  • Contudo, essas dimensões de relações de poder não podem ser tomadas separadamente em uma sociedade complexa como a atual. Uma relação está presente na outra, uma dimensão interfere na outra. Isso tudo nos remete a multidimencionalidade do poder.
  • É necessário, ainda, estudarmos o caráter contínuo ou descontínuo da multiterritorialidade experimentada pela comunidade em questão. Podemos dizer que ela é contínua, como a maioria das experiências multiterritoriais do mundo pós-moderno de hoje. Isto porque os múltiplos territórios se superpõem, em vez de serem conectados em redes horizontais.


Hibridismo cultural ou reclusão territorial?
           
  • A identidade cultural de um grupo é costumeiramente tomada como algo imutável e resistente às mudanças culturais que se dão fora dele. Contudo nos processos que se dão a velocidades incrivelmente altas nos tempos atuais, tal concepção de identidade não corresponde mais a realidade. A vivencia da multiterritorialidade vem acompanhada da construção de múltiplas identidades.
  • Castells apresenta a identidade como fonte de significado e experiência de um povo. Para o autor, devemos nos preocupar em distinguir identidades de papéis.
  • Identidades são fontes de significado para os próprios atores, por eles originadas e construídas por meio de um processo de individualização.
  • Papéis são normas estruturadas pelas instituições e organizações da sociedade.
  • As identidades organizam significados e os papéis as funções.
  • Assim, a identidade é territorial quando refere-se a determinada porção do espaço a fim de construir estratégias de apropriação cultural e política. A identidade territorial pode ser ativada como um instrumento de reivindicação política. Como o bairrismo.
  • As referências territoriais para a construção de tais identidades também podem estar relacionadas a uma espécie de densidade histórica.
  • No caso de Copacabana, isto fica claro, pois as expectativas territoriais passadas, do tempo em que os pescadores habitavam a praia.
  • Logo, a referencia territorial que constitui uma identidade “una” é encontrada, nos dias de hoje, ao lado de situações onde a identificação territorial se tornou complexa, múltipla e fluída.
  • Um exemplo bem expressivo sobre a construção de uma identidade “uma” que não tem sido fragmentada refere-se, no caso da comunidade de Copacabana, a religião.
  • A identidade do pescador está sempre relacionada com a religião católica ou, muitas veses, com a umbanda.
  • No dia 29 de junho é realizada a festa para São Pedro. O momento da festa é onde eles voltam a se identificar mutuamente, atreves do resgate de uma identidade “una”.




  • As identidades territoriais viveriam uma espécie de tensão entre uma tendência ao hibridismo e uma tendência a reclusão e ao fechamento territorial que parte da construção de um sentido mais estável a sociedade.
  • Não há como fecharmos em uma tendência uniforme no que diz respeito a construção de identidades territoriais, pois o mundo complexo em que vivemos impede tal formulação.
  • O território pode veicular a articulação de poderes simbólicos de múltiplas faces, que ora reforçam a segregação e o fechamento. A construção de identidades territoriais reclusas, observadas a partir de um outro ponto de vista, podemos pensar nas identidades de resistência.
  • Criada por atores que se encontram em posições ou condições desvalorizadas ou estigmatizadas pela lógica da dominação, construindo, assim, trincheiras de resistência e sobrevivência com base em princípios diferentes dos que permeiam as instituições da sociedade.


  • A identidade é reconstruída histórica e coletivamente e se territorializa através de ações de políticas e culturais.
  • A identidade pode significar uma territorialidade ativa, no sentido da organização para a conquista de autonomia em um sistema local territorial.
  • Moreira pensa em uma comunidade costeira como um fenômeno social que representa duas ordens de complexidade: Uma restrita e outra ampla.
  • A restrita revela a dimensão econômica, técnica, ideológica, discursiva, religiosa e educativa na relação da comunidade coma terra e o mar.
  • A ampla é a que diferencia a comunidade das demais e caracteriza que em algum grau uma comunidade é aberta a outra. Até mesmo nas comunidades excluídas. Que retiram de outras comunidades alguns sentidos da própria existência, como a linguagem e identidade nacional.

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