A historicidade de um conceito: Os diversos usos da paisagem ao longo do tempona ciência geográfica.
Giannella, Letícia. ISSN 1981-9021 – Geo UERJ – ano 10, V2, n.18, 2º Semestre de 2008. P 62-86.
Segundo Mello - O conceito de paisagem é um dos mais antigos da geografia, a ponto de, nas abordagens mais remotas, os geógrafos afirmarem ser a geografia a “Ciência das paisagens”.
A antiguidade clássica considerava a geografia como o estudo das relações sistemáticas que descrevem a paisagem. Fenômeno regional de Estrabão ( 63 ac – 63 dc ).
Paul Claval –
A paisagem aplicava-as aos quadros que apresentam um pedaço da natureza, onde os personagens tem um papel apenas secundário (idéia de janela).
A pintura busca reproduzir objetivamente um fragmento da natureza, mas o ponto de observação, o ângulo e o enquadramento da vista resultam de uma escolha. Existiria assim também uma dimensão da paisagem.
Holzer – Logo a geografia francesa apropriou-se da palavra paysage, destituindo-a de seu sentido renascentista e restituindo-a o sentido mais amplo de seu correlato alemão.
Bessé –
Antes d adquirir uma significação puramente estética, a palavra paisagem possui uam significação que se pode dizer territorial e geográfica, o que condiz com a idéia e paysage.
Na fórmula clássica da paisagem é definida com extensão de um território que se descortina num só olhar de um ponto de vista elevado. Assim a paisagem passou a ser tida como um espaço objetivo da existência, mais do que como vista abarcada por um sujeito.
Tatham – A geografia moderna se deu na segunda metade do século XVIII, alimentado na filosofia do iluminismo e do romantismo alemão. E o desenvolvimento do sistema newtoniano.
Moreira – Separa a geografia moderna em três fases. O paradigma holístico da baixa modernidade. O paradigma fragmentário da modernidade industrial e o paradigma holístico da hipermodernidade.
Luchiari – Baixa modernidade é o período do iluminismo e do romantismo alemão. Havia na baixa modernidade uma aproximação do homem com o mundo natural que tornava cada vez mais evidente o caráter ornamental da natureza e sua valorização estética como símbolo distintivo de posição social.
Forster – A descrição culmina na explicação das relações, com atenção particular as relações do homem com o meio.
Kant – A geografia está relacionada a percepção espacial dos fenômenos e por isso o filósofo a classifica como uma ciência da natureza.
Ritter –
Holístico, vai do todo para as partes.
A geografia se centralizava no homem, seu objetivo era o estudo da terra do ponto de vista antropocêntrico, procurar relacionar o homem com a natureza. E ver a conexão entre o homem e sua história e o solo onde viveu. O homem não se desassocia da natureza.
Humboldt –
Holístico, vai do recorte para o todo.
A Geografia centra-se também no homem mas se compreende no interacionalismo das esferas com primado no papel mediador do orgânico.
Existe uma fisionomia natural que pertence exclusivamente a cada uma das regiões da terra. O homem não se desassocia da natureza.
Eduard Suess – Explica a superfície da terra falando de face e não de superfície, ele faz da terra uma entidade da qual é possível perceber a fisionomia.
Moreira –
Na segunda metade do século XIX a emergência do positivismo, inaugurando, em todos os campos da ciência, uma extrema fragmentação do conhecimento. Esta ruptura faz parte da transição entre a baixa modernidade e a chamada modernidade industrial.
Logo cedo se manifesta uma reação contra essa naturalização mecanicista e fragmentária da visão de mundo positivista. Na frente NeoKantiana, a reação manifestar-se-á num movimento de retorno a Ritter, trazendo de volta a geografia seu caráter de cunho unitário e corológico.
Vital de La Blache –
Consolida a geografia regional e é nele que se materializa o conceito lablacheano de região. A Paisagem é o efeito e a expressão evolutiva de um sistema de causas também evolutivas.
Jean Brunhes –
Em todos os lugares o homem inscreve sua passagem por impressões que são objetos de nossos próprios estudos.
Pós modernidade ou Ultra modernidade.
O paradigma da complexidade romperia com os raciocínios lineares e reducionistas, incorporando um enfoque que busca interações complexas.
A partir da década de 70 o registro geográfico deixa de considerar que os homens são independentes do meio onde se encontram.
A fenomenologia de Husserl chega a geografia através da percepção ambiental (geografia da percepção), da geografia humanista e da geografia cultural entre os anos 1980 e 1990.
Dois novos caminhos interessam de perto a geografia. O primeiro é a história ambiental, o segundo é o proposto pela geografia cultural.
A natureza antes do período das técnicas, era uma natureza mágica, mítica, das trevas. Em cada época, o imaginário coletivo define a concepção social de natureza e a traduz, transformando-a em cultura.
Shama (1996) Antes de poder ser um repouso para os sentidos, a paisagem é obra da mente, compõe-se tanto de camadas de lembranças quanto de extratos rocha.
A paisagem contemporânea é uma concepção híbrida, carregada de natureza e cultura, de processos naturais e sociais, a paisagem não se esgota, não morre.
É a unidade da diversidade e diversidade da unidade, numa relação cíclica re reprodução em espiral.
Harvey (1996) as sociedades humanas não são simples objetos das leis da natureza, são sujeitos que a transformam e a incorporam nas suas relações.
Berque (1998) entende a geografia cultural como o estudo do sentido (global e unitário) que uma sociedade dá a sua relação com o espaço e com a natureza, relação que a paisagem exprime concretamente.
A geografia cultural nesta tradição, segundo Cosgrove (1998), concentrou-se nas formas visíveis da paisagem, onde a cultura parecia funcionar através das pessoas para alcançar fins dos quais elas estavam vagamente cientes.
Para Cosgrove, todas as paisagens são simbólicas e revelar os significados na paisagem cultural exige a habilidade imaginativa de entrar no mundo dos outros de maneira auto conciênte.
É preciso prestar atenção as paisagens dominantes e as paisagens alternativas.
Ele divide as culturas alternativas em residuais, emergentes e excluídas.
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