terça-feira, 17 de agosto de 2010

Resenha Crítica do texto: Sobre a memória das cidades de Maurício de Almeida Abreu, do Departamento de Geografia da UFRJ

Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Macaé
Graduação em História








Bruno Botelho Horta
Primeiro Período








Resenha Crítica do texto: Sobre a memória das cidades de Maurício de Almeida Abreu, do Departamento de Geografia da UFRJ








Macaé/RJ
Junho de 2010.

O autor Maurício de Almeida Abreu é professor titular do programa da graduação e pós-graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestrado e doutorado na Universidade de Ohio (EUA).
De início o autor revela que depois de um longo período na história do Brasil, onde o novo era extremamente valorizado, um novo discurso está invadindo o pensamento urbano. É a restauração, preservação ou revalorização dos vestígios do passado.
Esta observação é importante e significativa, pois revela uma mudança no pensamento comum que por muitas vezes fica imperceptível ao morador dos centros urbanos do Brasil. Sendo até mais popular e menos erudito do que o autor, valho-me de uma frase até comum mas que pode resumir bem o assunto tratado: Só damos valor ao que perdemos. E o sentido de valor que podemos tratar aqui é bem mais amplo do que ter uma simples consideração ou importância pessoal. O valor atinge aspectos culturais, humanos e até econômicos.
O autor segue e direciona seu texto subdividindo-o em 3 eixos: um de natureza geral, outro que busca a conceituação e por fim o que discute o papel da geografia neste cenário.
No primeiro eixo temos: A valorização atual do passado. Citando o francês Jacques Le Goff, um especialista em idade média, que ressaltou o período do iluminismo, onde todo um passado de grande imobilidade humana, devido a hegemonia da igreja, era deixado para trás. Os novos pensadores acreditavam em um futuro brilhante para a humanidade que passaria a conduzir seu próprio caminho. Le Goff segue alertando que este futuro maravilhoso nunca veio e que mesmo renegando o passado o homem moderno, que é o pruduto daquele pensamento iluminista, se tornou , apesar de inegáveis progressos, um ser que se auto destrói, destrói seu meio ambiente, falha na construção da nova sociedade e faz o futuro um lugar incerto e temeroso.
O também francês Bernard Lepeti diz que os momentos de transição são momentos de perda da concordância dos tempos.
Concordo que vivemos um momento de transição é que não sabemos onde esta explosão de novas tecnologias que são quase que imediatamente superadas por novíssimas técnicas, irão nos levar. Fica em aberto se esta tendência a valorização da memória do passado perdurará por muito tempo ou logo será relegada, devido ao turbilhão de novidades que assola o homem moderno a cada segundo. Mas seguimos analisando a obra de Maurício de Almeida Abreu.
A busca de “Memória Urbana” no Brasil. A fundação das grandes cidades brasileiras como Rio de Janeiro em 1565, São Paulo em 1554, Olinda em 1537, Salvador 1549 e Ouro Preto 1711, apesar de serem cidades com mais de quatrocentos anos, nada ou muito pouco guardam de seu passado históricos. Encontramos nestas cidades prédios e obras públicas com cerca de cento e cinqüenta ou cem anos, mas do passado com cerca de quatro séculos nada restou. As duas ultimas cidades citadas Salvador e Ouro Preto são as que ainda preservam um pouco mais deste passado distante, mas não por cultura do povo que as habita mas sim por um decadência financeira que atingiu estas cidades.
Estes fatos são bastantes compreendidos pois a modernização, a melhora da qualidade de vida e a tendência que as sociedades urbanas tem de seguir modelos mais avançados. Como eram modelos as cidades européias. Levaram a população dos centros urbanos e transformar seu espaço de uma forma modernizadora. Ter um cidade e seus habitantes utilizando recursos modernos era sinônimo de desenvolvimento e a sociedade na queria ser considerada ultrapassada. Salvador deixou de ser a capital do País e Ouro Preto perdeu força na exploração das minas. Isto foi fundamental para que o dinheiro não circulasse nestas cidades como circulavam nas outras grandes cidades, criando assim uma estagnação do crescimento e conseqüente destruição do passado urbano.
Voltando ao autor ele relata que hoje existe uma grande preocupação em preservar/recuperar/restaurar o que ficou das paisagens urbanas nas cidades. Os governos, em todas as esferas, vem investindo e estimulando esta preservação. Cria secretarias especializadas em patrimônio histórico e contrata firmas especializadas em restaurações para resgatar este passado. Além de tombar patrimônios considerados históricos.
Acredito que estas medidas surjam mais por pressões não governamentais, do que pela livre iniciativa dos governos em preservar a memória urbana.
A memória individual. O autor recorre a definições e pensamentos de Milton Santos e do o belga Georges Poulet, onde cita o escritor Mareei Prost. Define que a memória individual tem aspectos que remontam um passado vivido e resgatado em forma de memórias pessoais. Onde o personagem reconstrói fatos e lugares vividos por ele em seu passado, além das memórias adquiridas através de contos e relatos de outras pessoas mais velhas que contavam histórias de seu passado. O autor alerta que essas memórias são pessoais e podem conter distorções ocasionadas pela pessoalidade das informações que são passadas.
Primeiro não tenho certeza se o pensamento de um belga, baseada nas idéias de um francês, pode representar ou tentar representar o pensamento individual de brasileiros, que vivem sobre aspectos muito diferentes e por vezes contrários. Como nas relações de dominação da Europa sobre a América do Sul como um todo. E ainda percebo falhas de precisão e de aprofundamento das questões históricas. Falta precisão, pois confiar em fontes tão subjetivas é extremamente difícil, quando a intenção e resgatar um passado importante e representativo. E falta aprofundamento, pois um passado de mais de quatrocentos anos, se perde facilmente quando retroagimos gerações para buscar um passado oral.
A memória coletiva. Citando o sociólogo francês Maurice Halbwachs que diz que a memória coletiva envolve a memória individual mas não se confunde com elas. A memória coletiva é um conjunto de lembranças construídas socialmente que transcendem o indivíduo. Ela tem caráter contínuo e só retém aquilo que interessa ao grupo, portanto nem tudo é preservado. Quando determinado interesse vai sendo deixado para trás ele deve ser registrado, para que não se perca no tempo e deixe de existir.
O pensamento do autor e a sua fonte de referencia são bastante claros, mas deixam de ter lógica. No momento que a memória coletiva vai deixando de Aldo um determinado assunto ou fato, alguém se encarrega de registrá-lo para que ele não se perca. Mas partindo do princípio que uma pessoa vai registrar uma memória coletiva, ela imediatamente deixa de ser coletiva para representar o pensamento individual de quem a escreveu.
Memória e história. A memória seja coletiva ou individual e sempre seletiva, pois as pessoas só guardam aquilo que querem lembrar. Já a história é objetiva, nunca terá a objetivação total, mas chega muito mais perto do que a memória. A história é registro, distanciamento, problematização, crítica e reflexão.
Aqui o autor consegue ser direto e define uma questão importante. A memória das cidades não é construída pela memória de seus habitantes e sim pela história do lugar. Assim fugimos das subjetividades e das distorções que até então estavam caracterizando o texto.
A memória das cidades. Aqui o autor define dois conceitos o de “memória urbana” é trata das lembranças do modo de vida urbano da cidade. E a “memória da cidade” onde há uma base material, um lugar, traços arquitetônicos.
Aqui o autor é claro e preciso a memória urbana, trata dos aspectos individuais e sócias que o indivíduo possui na cidade. Já a memória da cidade são os aspecto que existem de forma física nas cidades.
Geografia e memória. Neste longo e conclusivo eixo o autor incorpora o sentido geográfico que falta ao texto. Cita Milton Santos que diferencia a história urbana da historia da cidade. O urbano é o abstrato, o geral, já a cidade é o particular, o concreto. A história de uma cidade não dispensa a análise da dimensão única, idiográfica, do lugar. Se abandonarmos essa dimensão poderemos até recuperar o urbano, mas não a cidade e muito menos a história da cidade. Não basta analisar a atuação dos processos sociais no espaço. Temos que dae conta também do espaço onde eles atuaram.
Com essa base geográfica o autor consegue definir de que forma devemos pensar ao analisar a memória da cidade. Depois de descrever todos os aspectos sociais e históricos das relações sócias, a geografia com seu estudo de base, pode fechar o conceito de memória, trazendo as definições de formação do lugar enquanto espaço antes desocupado, depois rural, loteado e por fim urbanizado.

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