quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

República Bolivariana da Venezuela por Patrícia Barboza

Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Macaé
Graduação em História







Patrícia Barboza
Quarto Período







República Bolivariana da Venezuela
Matéria: História da América
Professor: Victor







Macaé/RJ
Novembro 2011.




É creditado ao navegador Américo Vespúcio o nome “Venezuela”. Os índios locais, ao longo das margens do lago Maracaíbo, viviam em casas sobre palafitas e isso trouxe à sua mente os palácios de Veneza; assim, ele denominou essa região de "pequena Veneza", que é o significado do vocábulo.
Após cerca de trezentos anos como colônia do reino de Espanha, a Venezuela conseguiu sua independência em 05/07/1811, após um processo histórico cuja análise não é o foco deste trabalho. Proclamada a independência pela Sociedade Patriótica e formado o Congresso da República, Simon Bolívar assume o comando da nova nação.
Constituída como república federativa, a Venezuela é composta por 22 Estados e o Distrito Federal, além de 72 ilhas no Caribe. O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, eleito para um mandato de seis anos, com direito à reeleição. As eleições presidenciais venezuelanas são disputadas em um único turno.
O estudo do caso venezuelano de 1950 aos dias de hoje pode ter como introdução a seguinte análise:

A partir de 1949/1950 a Venezuela iniciou um grande salto econômico, pela intensificação da produção de petróleo e início de um processo de industrialização proporcionada pela presença do Estado, influenciado pelas idéias da CEPAL. Acelerou-se o processo migratório procedente da Europa, aportando mão-de-obra especializada, novos empreendedores e capitais (HARDY, 2003, p. 562) .

No início do crescimento do petróleo na economia venezuelana se deu entre 1920 e 1938 e foi progressivamente regulamentado por sete leis que aumentavam gradativamente a participação do Estado na renda gerada por essa extração.
Em novembro de 1939, um tratado de reciprocidade comercial foi firmado entre o país e os Estados Unidos, ampliando as exportações petrolíferas para o mercado norte americano. Esse tratado se transformou em um entrave para o crescimento venezuelano, atrelando suas práticas comerciais aos EUA e impedindo o desenvolvimento e um significativo acúmulo de capital no país. O Estado utilizou as rendas provenientes do petróleo para aumentar o bem estar da população. Áreas como as de saúde, educação e obras públicas receberam significativos investimentos públicos.

O sistema de saúde da Venezuela alcançou níveis de excelência e se transformou em referência mundial. O malária ou paludismo, a febre amarela e enfermidades gastrointestinais foram reduzidas de forma significativa. É importante ressaltar que os serviços eram oferecidos de forma gratuita para toda a população.
Em 1943, a Lei dos Hidrocarbonetos consolida a política que seria utilizada no caso do petróleo explorado no país.
O ano de 1948 é um marco para a história do país, pois a Venezuela tornou-se o maior exportador mundial de petróleo. Em decorrência, aconteceram transformações fiscais e o aumento da produção interna junto com o aumento dos preços internacionais do petróleo, conseqüência do fim da Segunda Guerra Mundial. O que se projetava como um período de alta não se confirmou, pois os gastos públicos do país sofreram um aumento de 30%.
A “Convención Nacional de Petróleo”, realizada em Caracas no ano de 1951, projeta o país como produtor internacional do petróleo e com grande capacidade de extração.
No ano de 1952 ocorrem eleições presidenciais, vencidas por Jovitó Villalba; mas uma manobra eleitoral levou ao poder o coronel Marcos Pérez Jiménez. De perfil autoritário, baseou sua política econômica na doutrina do bem comum, formando na população uma consciência nacional voltada para a grandeza e o desenvolvimento da pátria. Obras de infra-estrutura foram realizadas na Venezuela, como a construção de edifícios públicos, estradas, pontes, a cidade Universitária de Caracas, a Biblioteca Enrique Tejera Del Ateneo de Valencia, o Hospital Central de Valencia, a Maternidade Concepción Palácios em Caracas, o hotel Humboldt, os teleféricos das cidades de Caracas e de Mérida: todas essas obras graças à exportação do petróleo. Organizou-se a educação primária, média e superior e criaram-se os serviços nacionais de saúde com atendimento gratuito.
Até 1958, a participação estatal nos lucros se mantém constante e sem sobressaltos, mas uma nova lei estabeleceu uma alíquota do Imposto de Renda de 45% sobre os lucros petroleiros, inundando os cofres estatais com uma renda até então inimaginável.
Rômulo Bettancourt é o novo presidente a partir de 13/02/1959. Continua a promover o desenvolvimento econômico aproveitando das rendas do petróleo para industrializar o país e substituir as importações por um protecionismo nacional.
Em 13 de março de 1964 Raúl Leoni assume a presidência. O PIB cresce 13% em 1964 e nos anos seguintes esse crescimento é consolidado. Em razão da situação econômica favorável, os gastos públicos continuam aumentando até que as despesas superam as receitas, configurando-se uma crise econômica que traz a reboque uma instabilidade institucional. Como o governo venezuelano decide não cortar gastos supérfluos, o presidente aprova uma reforma tributária no sentido de aumentar artificialmente a balança comercial. Mas já em 1968 o Estado opera com um déficit público no valor de 41 milhões de bolívares. A balança comercial, todavia, se estabiliza e o governo retoma uma certa estabilidade econômica no país.
Leoni mostrou preocupação com a geração de energia elétrica, crucial não somente para o abastecimento da população venezuelana, mas também muito importante para o funcionamento do setor industrial, que apresentou crescimento. A produção agrícola também cresceu. Na educação, deu ênfase à alfabetização e à educação primária. Na área de saúde e de seguridade social ocorreram modernizações. O bom desempenho econômico foi provocado pela continuidade das políticas anteriores e pela conjuntura internacional favorável, que estimulava a produção e a exportação de petróleo.
Rafael Caldera (1969/1974) herdou a Venezuela em condições favoráveis de governabilidade: pacificação econômica, equilíbrio dos poderes públicos e disciplina fiscal foram as características de seu mandato.
Em 1973, mesmo com os baixos preços do petróleo, a economia venezuelana vinha crescendo rapidamente e sua renda per capita era uma das mais altas da América Latina. Com a elevação os preços do petróleo, paradoxalmente, esse país entrou nos anos de 1980 com grandes dificuldades econômicas. Isso decorreu das políticas do Governo Rafael Caldera, que empreendeu uma série de ações econômicas adversas no que concerne ao crescimento e ao desenvolvimento econômico. Como será visto a seguir, a Venezuela não conseguiu tirar proveito da abundância de divisas proporcionadas pelo petróleo para promover maior crescimento econômico com melhorias sociais.
Já em 1974 a Venezuela apresenta um significativo aumento de produtividade, possuindo uma população em idade ativa com alto nível de educação formal. Esse dinamismo se dá em função do aumento da renda petrolífera, cuja resultante é a expansão das atividades da indústria e de serviços, além de uma urbanização acelerada.
A PDVSA foi criada por um decreto lei de 30/08/1975, entrando em vigor 01/01/1976, e tinha por objetivo principal extrair e regular o processo de exploração do petróleo no país. Foi criada tendo uma empresa holding com 14 subsidiárias; antes do final da década de 1970, essas subsidiárias reduziram-se para três (Lagoven, Maraven e a Corpoven).
Porém, com o aumento dos gastos públicos no período de 1974/1998, o lucro da principal fonte de geração de divisas da Venezuela diminui. O governo recorre à desvalorização cambial. A inflação aumenta a produção diminui. E a renda per capita e a produtividade do trabalho caem. O PIB encolhe, embora o estoque de capital bruto tenha aumentado. O desempenho econômico da Venezuela é influenciado pela renda petrolífera. Essa desaceleração econômica agravou-se em 1982 e em 1989 o país adotou um plano ortodoxo de estabilização imposto pelo FMI. Caso que será citado mais à frente.

A Venezuela é um dos maiores países da América do Sul, com quase 27 milhões de habitantes, distribuídos especialmente por grandes cidades, como Caracas, Maracaibo e Valencia. Em 2005, o PIB do país alcançou US$ 131 bilhões (ALADI, 2007); aproximadamente dois terços do PIB, das exportações e da arrecadação fiscal vêm da exploração de petróleo. As reservas de petróleo e gás da Venezuela colocam o país em quinto lugar entre os grandes produtores mundiais. Esse recurso natural tem, portanto, grande peso na economia venezuelana, explicando o dinamismo do crescimento da sua economia (MARCANO & TYSZKA, 2006) .

A Venezuela, de 1958 e 2002, não passou por ruptura em sua estrutura política. O Pacto de Punto Fijo (1958-1998) foi um período de repressão, principalmente os anos da década de 1960, com a luta guerrilheira na Venezuela. Um momento que retrata perfeitamente esse período foi o Caracazo , onde milhares de pessoas foram assassinadas durante a repressão do governo às manifestações populares em Caracas. Carlos Andrés Pérez, em obediência ao FMI, aplica medidas duras na economia do país, como o aumento preços dos transportes públicos. Isto revoltou a população e Carlos Pérez decreta a suspensão das garantias constitucionais e o Exército toma as ruas de Caracas para reprimir essa revolta, deixando um saldo de mais de três mil mortos.
Em 1992 as revoltas militares contra o governo de Carlos Pérez se intensificam. É nesta ocasião que surge uma nova liderança no país, o tenente-coronel Hugo Chávez Frias. Chávez comanda um levante armado, que é derrotado e lhe acarreta dois anos de encarceramento. Mas, com o apoio popular, ganha as eleições de 1998. Nesse período a economia do país, depois de quatro anos de vigência do plano imposto pelo FMI, apresenta salários reais do setor formal com queda de 84% em relação aos níveis de 1989, com aumento dos níveis de pobreza. Mesmo assim, o PIB cresceu 5,5% entre 1989 e 1993.
A principal promessa de Chávez em sua plataforma eleitoral foi a nacionalização das atividades que envolviam o petróleo, aumentando a riqueza nacional através do controle estatal completo da PDVSA. Chávez recebeu de Rafael Caldera a economia em uma situação muito difícil, tendo em vista que o petróleo, a maior fonte de receita do país, estava com os preços muito baixos.
Em 1999 a Venezuela promulga uma nova Constituição. Os ataques da oposição conservadora ao governo, orquestrados através da mídia privada alinhada a interesses forâneos, vão se acirrando pouco a pouco e iriam redundar na tentativa de golpe que ocorreria mais adiante. Em 2001, a oposição articulada se prepara para assumir o controle do país, mas o governo decreta as 49 Leis Habilitantes, pelas quais o executivo controla as terras, a pesca e os hidrocarbonetos. Essas leis regulamentam a Constituição, mas contrariam parcelas importantes dos setores dominantes e oposicionistas. A partir deste momento, a disputa pelo poder no país se radicaliza, culminando com o golpe de estado de abril de 2002.
O ano de 2002 traz as para as ruas de Caracas o acirramento e a clivagem das posições políticas do país. Junto a este cenário de mobilização nas ruas, teve início o “goteo militar”, ou o golpe em conta-gotas, no qual os comandantes das Forças Armadas emitiam pronunciamentos contrários ao presidente Chávez, lançando assim um conjunto de senhas para dentro e para fora dos quartéis sobre o golpe que se avizinhava.
O final de 2001 já marcava o início de uma disputa aberta pelo controle do Estado e representativamente o controle da “Petróleos de Venezuela S.A”. É esta a parte mais visível desta disputa. Por um lado o governo afirma seu direito de nomear a direção da empresa, por outro a gerência da empresa em oposição à política imposta reage e resiste. Na verdade a questão era “quem manda no petróleo” que ali estava colocada com toda a radicalidade. Este conflito é o articulador da ação da classe dominante que a partir do final de 2001 passa a atuar de maneira decidida e cada vez mais unida para derrubar o governo de Hugo Chávez. O detonador dos últimos momentos desta disputa foram as demissões de sete altos gerentes de PDVSA pelo Executivo.
Essas demissões são anunciadas no domingo, 7 de abril de 2002, durante o programa “Alô Presidente”. Neste mesmo dia os líderes da oposição se reuniram e convocaram uma paralisação em todo país em solidariedade aos gerentes demitidos. Na segunda-feira, 8 de abril, a paralisação é convocada para o dia 9. No primeiro dia de paralisação não se alcança a amplitude desejada, mas no dia seguinte uma marcha da oposição caminha por Caracas até a sede de PDVSA. O plano do golpe de estado já está em execução. A marcha da oposição é desviada para Miraflores, onde milhares de partidários do governo estavam concentrados. Quando chegam ao centro da cidade, diversos manifestantes de ambas as concentrações são mortos em uma troca de tiros. Estes mortos são utilizados pela oposição para desconhecer a autoridade do governo Chávez e exigir sua renúncia.
Pedro Carmona chega ao poder em 12 de abril e são colocadas em prática um conjunto de medidas repressivas. O primeiro e único decreto do governo de Pedro Carmona, emitido neste dia, caracteriza-se pelo autoritarismo. São suspensos de seus cargos todos os deputados da Assembléia Nacional, bem como as leis promulgadas em novembro de 2001. O presidente assume plenos poderes para destituir e nomear qualquer funcionário público. O primeiro decreto do novo governo se caracteriza pela profundidade de suas ações repressivas, que em um único documento removiam os principais representantes dos poderes públicos do país. Para assegurar a construção do novo regime desenhado neste decreto, seriam fundamentais medidas repressivas em muitos níveis.
A partir do dia 12 de abril diversas manifestações de rua ocorreram contra o novo regime, exigindo a volta do presidente eleito, já que pairava dúvida sobre a sua renúncia e sobre as acusações repetidas na mídia acerca da responsabilidade dos chavistas nas mortes do dia anterior.
Os bairros populares no mesmo dia iniciaram a revolta contra o novo regime, sendo reprimidos pela polícia metropolitana. A mídia passa a divulgar imagens de militantes chavistas disparando e imagens dos mortos na manifestação. Assim, os meios de comunicação, apoiando golpe (RCTV, Globovision, Venevision) difundem de forma exaustiva que os militantes chavistas, seguindo ordens expressas do presidente deposto, haviam disparado contra uma manifestação pacifica da oposição. Estas imagens foram utilizadas tanto para consumar o golpe quanto para justificar a repressão do dia seguinte. Tomando como pretexto a busca dos assassinos e seus mandantes, tanto os altos funcionários do governo quanto os militantes chavistas tiveram suas casas invadidas na busca pelas armas utilizadas no confronto.
No ano de 2001, Hugo Chávez havia organizado a formação dos círculos bolivarianos, para formar a base de apoio ao projeto de transformação por ele comandado. Esta era a denominação dos espaços de reunião do Movimento Bolivariano Revolucionário, organização fundada por Chávez, inicialmente integrada pela classe militar, mas que após as insurgências de 1992, passam a se constituir em organizações de massa.
A repressão do governo recém empossado era contra esses círculos. Eram 200 mil círculos que totalizavam de 1 a 2 milhões de pessoas. Além de atingir diretamente esses militantes, a repressão gerava um clima de medo que não permitia que os vínculos existentes entre estas organizações bolivarianas pudessem se fortalecer para resistir ao novo regime. Altos funcionários do governo foram perseguidos, os meios de comunicação de massa foram dominados e um “show de repressão” foi montado. Os casos mais representativos foram as prisões dos deputados Tarek William Saab e do Ministro Rodriguez Chacon.
Estas práticas repressivas buscavam desarticular potenciais ameaças ao golpe de estado, reprimindo os setores populares, com especial ênfase sobre suas lideranças. Tais práticas repressivas na Venezuela violavam, como de costume em toda América Latina, os direitos humanos e neste momento esta ação se amplia e se intensifica.
O dia 13 de abril foi marcado por vários focos de protestos contra o golpe que tomaram as ruas das principias cidades do país. Tendo seu maior destaque em Caracas, as manifestações se concentraram no palácio Miraflores, nos canais de televisão e nos quartéis. Esta nova situação gerada pela revolta popular força a tentativa de composições entre determinados setores golpistas, que eram legalistas e almejavam o restabelecimento da Constituição. Com o movimento nas ruas, os insurretos não estavam dispostos a retroceder sem o atendimento de sua principal reivindicação: a volta do presidente Chávez.
As Forças Armadas estavam divididas. O Alto Comando da ala golpista dos militares consegue garantir unidade de ação, mas entre os oficiais imediatamente inferiores o consenso não era de apoio ao golpe. E eram estes oficiais, fora do núcleo duro golpista, que detinham o comando direto de tropas e poderiam cumprir um papel chave na repressão golpista. Mas estes oficiais, para não mencionar as tropas, estavam divididos. Essa divisão levava à impossibilidade de, naquele momento, as Forças Armadas serem utilizadas como uma imensa polícia capaz de tomar as ruas das principais cidades do país para impor o novo regime.
A composição social das Forças Armadas venezuelanas é mais popular do que elitista, sendo esta camada popular muito ligada aos movimentos chavistas. O presidente deposto, portanto, tinha a simpatia da base da força militar do país, mesmo não contando com o apoio de alguns comandantes, e isso era uma situação de vantagem para o presidente deposto. A demonstração desta configuração materializara-se nas revoltas militares do ano de 1992, nas quais comandados pela média oficialidade organizada dentro do Movimento Bolivariano Revolucionário, 200 setores das Forças Armadas se sublevaram contra o governo de Carlos Andrés Pérez. Mais recentemente, após a posse do governo Chávez, o novo papel designado às Forças Armadas, sua vinculação com programas sociais como o Plano Bolívar 2000, influenciou na dificuldade de utilizá-las na repressão durante o golpe.
Hugo Chávez, desde os anos 80, vinha procurando tomar o poder em nome do povo, sempre envolvido com grupos de esquerda, quer dentro das Forças Armadas ou nos movimentos sindicais e populares. Como exemplo pode ser citado o R-83, um plano de revolta militar com apoio da população formatado pela ARMA (Aliança Revolucionária de Militares Ativos).

Douglas Bravo, conhecido líder guerrilheiro, que havia sido membro do Partido Comunista Venezuelano (PCV) e organizador das Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN), conheceu o atual presidente da Venezuela quando construía um novo instrumento político e militar, o Partido da Revolução Venezuelana (PRV), formado por inúmeros dissidentes do PCV (Garrido, 1999: 70-77).

Em 1992, Chávez é um dos comandantes do Movimento Bolivariano Revolucionário 200 (MBR) que tenta derrubar o governo através de um levante militar, sendo, todavia, derrotado. O aspecto positivo é que o movimento torna-se conhecido em todo o país através de um pronunciamento na televisão feito por Chávez, quando ele propõe os termos para o fim da revolta. É preso por dois anos, voltando à vida política com o Movimento V República (MVR), partido político criado em 1997. Concorre à presidência e vence em 1998 com 56% dos votos. No ano seguinte faz um plebiscito para aprovar a nova constituição e tem aprovação de 71% da população. A Constituição muda o nome do país para República Bolivariana da Venezuela, em homenagem a Simon Bolívar, herói da guerra de independência, conhecido em toda América Latina como “O Libertador”.
Passado o caso da tentativa de golpe já abordado anteriormente, Chávez realiza a obrigação constitucional de um referendo para que os venezuelanos decidissem se ele deveria continuar como presidente ou deveria deixar o cargo e convocar novas eleições. É realizado em 15 de agosto de 2004 com mais uma vitória de Chávez.
A base de sustentação do governo Chávez é formada por uma ampla aliança de alguns setores da sociedade venezuelana e diferentemente do que possa parecer, não é um movimentos populista e ditatorial. Nesta base governista estão: o Partido Socialista Unido da Venezuela - PSUV; o Partido Comunista da Venezuela – PCV, fundado em 1931, é a mais antiga organização política da esquerda venezuelana ainda em atividade; Unidade Popular Venezuelana – UPV, que se diz seguidora do bolivarianismo e do marxismo, com forte influência do pensamento de Ernesto Che Guevara; Pátria Para Todos – PPT, que é uma dissidência da Causa R, partido com influência no movimento operário; Liga Socialista – LS, organização política marxista criada no início dos anos 70; Movimento Eleitoral do Povo – MEP, que é uma dissidência do partido social-democrata Ação Democrática – AD, em 1967; Pela Democracia Social – PODEMOS, surgido em 2003 como dissidência do Movimento Ao Socialismo – MAS, com uma plataforma anticapitalistas e socialistas. Além desses partidos, muitos outros movimentos participam desta chamada Revolução Bolivariana.
Logo após a vitória eleitoral de Hugo Chávez em dezembro de 2006, quando foi novamente eleito presidente da República Bolivariana da Venezuela, estas organizações decidiram lançar um comunicado no qual divulgaram suas propostas para o que consideram “uma nova etapa para o país”. No documento defendem:
1. Aceleração das transformações do Estado;
2. A municipalização do poder popular;
3. A luta sem tréguas contra a corrupção e a burocracia;
4. A aplicação e o aprofundamento da economia social e coletiva;
5. A transformação das empresas do Estado em empresas de produção social;
6. A industrialização do país sobre a base de uma nova concepção de propriedade;
7. A aceleração da guerra ao latifúndio;
8. Mais eficiência na aplicação dos programas de moradia popular;
9. Implementação de um novo modelo educacional;
10. A institucionalização da ética e da moral revolucionárias;
11. A convocação das bases chavistas para um debate participativo sobre a construção do partido da revolução.




Nas palavras de Chávez:
É um partido que nasce orientado por importantes princípios, tais como:
1. O de ser um instrumento de unidade das diversas forças sociais e políticas na defesa da revolução e do socialismo;
2. A consciência de que os instrumentos políticos são transitórios e devem marchar ao ritmo do processo revolucionário;
3. De que deve ser uma expressão da diversidade das forças revolucionárias ao mesmo tempo em que vai lutando contra o corporativismo e o partidismo/grupismo das organizações para fortalecer a estratégia socialista;
4. Não repetir os erros do passado e construir um caminho próprio valorizando as experiências anteriores;
5. Garantir que as lideranças sejam eleitas e referendadas pela base, criando mecanismos para evitar a existência de uma cúpula dirigente que se perpetue na condução da organização;
6. Estruturar o partido através do trabalho de organização na base, nos bairros, vilarejos, comunidades, municípios e fazer com que a militância assuma tarefas concretas nas lutas de massa;
7. Ter a clareza de que não se trata de um partido cujo objetivo central são as eleições, ainda que o mesmo se prepare e participe das mesmas defendendo a revolução e o socialismo;
8. Intensificar a batalha de idéias em torno da defesa do projeto socialista;
9. Estimular e desenvolver experiências socialistas e de poder popular nas comunidades rurais e nos espaços urbanos;
10. Impulsionar a transformação do modelo econômico e ir criando as condições para socializar a economia e gerar novas relações de produção ao proletariado.


Em 2006, a renúncia do Vice Presidente e Ministro da Defesa Ramón Carrizales, da Ministra do Meio Ambiente Yubirí Ortega e do Presidente do Banco da Venezuela Eugênio Vasquez Orellana, todos alegando motivos de saúde, foi a demonstração de que uma crise interna se desenvolvia dentro do governo chavista. O principal motivo desta crise foi o fechamento de seis redes de televisão venezuelanas por determinação do governo federa, em razão de não terem transmitido o discurso presidencial pela comemoração do 23 de janeiro, data que marca a derrubada do ditador Marcos Perez ocorrida em 1958. Essa medida desencadeou uma manifestação estudantil que atacou principalmente o fechamento da RCTVI ( Radio Caracas de televisão Internacional). Mesmo sendo uma medida legal, o fechamento foi considerado um ato ditatorial e que feria a liberdade de expressão na Venezuela. Essa manifestação foi agregando diversos outros protestos como a alta inflação, o péssimo sistema elétrico e de águas das cidades e ainda a elevada corrupção do governo e sua grande burocracia. Em contra-partida, os índices de aprovação do governo estão na faixa de 60%. Na verdade e crise é clara e o governo é colocado sob pressão.
O sentimento de cumprimento das leis sempre esteve presente no cotidiano do atual momento venezuelano, desde a consulta popular para uma nova constituição até os constantes plebiscitos e referendos, recurso constantemente utilizado pelo governo de Hugo Chávez para manter o caráter popular de seu governo. Nos últimos 20 anos, quinze consultas populares foram realizadas, e isso pode justificar a dureza de decisão ao fechar as emissoras.
A briga midiática de inicio de novo governo levou o Estado a investir em uma rede oficial de televisão polarizando a mídia venezuelana entre duas emissoras: a estatal “Venezolana de Televisión – VTV” e a “Globovisión”.
Essa polarização não gera um debate, um confronto de idéias ou uma busca por conciliação. Os discursos são isolados e cada emissora tem seu público definido que luta e protesta dentro de suas convicções isolacionistas.
A Venezuela, nos últimos dois anos, assinou diversos acordos bilaterais de cooperação com a República Islâmica do Irã e com a Confederação Russa. Entre eles a criação de um banco binacional com o Irã, além do estabelecimento de campanha conjunta para a exploração de petróleo. Com a Rússia, convênios visando à construção de uma central atômica e também um banco binacional e os planos de cooperação nuclear. Após o acidente nas usinas nucleares de Fukushima, situadas no Japão, tais projetos congelados.
Para finalizar, um quadro demonstrativo da Venezuela para auxiliar na interpretação dos fatos narrados.


GEOGRAFIA
Área 912.050 km².
Hora Local -1:30h em relação à Brasília
Clima Tropical, quente e úmido
Capital Caracas
Principais Cidades Caracas, Maracaibo, Valencia,
POPULAÇÃO
Habitantes 27.365.743 (estimativa 2011).
Nacionalidade Venezuelano
Composição Espanhóis, Portugueses, Italianos, Árabes, Alemães, Africanos e indígenas.
Idiomas Espanhol (oficial), dialetos regionais.
Religião Católicos 96%, Protestantes 2%, Outros 2%
GOVERNO
República federal.
Div. Administrativa 23 estados.
Presidente Hugo Chavez Frias
Principais partidos Democratas Cristãos, Um novo Tempo, Aliança do Povo Bravo, Ação Democrática, Pela Social Democracia, Justiça Primeiro.
Legislativo Unicameral - Assembléia Nacional, com 165 membros eleitos por voto popular para mandato de cinco anos.
Constituição 1999.
ECONOMIA
Moeda Bolívar Forte
Cotação US$ 1 4,29 (março de 2011).
PIB US$ 285,2 bilhões (estimativa 2010).
Inflação 29,8% (estimativa 2010)
Desemprego 12,1% (estimativa 2010)

• Fonte: Banco Mundial, Time and Date, IBGE, Banco Central do Brasil, CIA, Nações Unidas.


Bibliografia

RIBEIRO, Vicente Neves da Silva. 11 e 12 de abril: um ensaio. Golpe e terrorismo de estado na Venezuela do século XXI. IX Encontro Estadual de História da Associação Nacional de História, seção Rio Grande do Sul.
SOUZA, Romina Batista de Lucena de. “Fatores do Crescimento Econômico da Venezuela, 1950/1998”. In: Revista Análise Econômica, Porto Alegre, ano 26, n. 49, p. 65-86, março de 2008

RABAT, Mácio Nuno. A Militaziação da Venezuela e o Mercosul. Biblioteca digital da Câmara dos Deputados. 2010.

ARAÚJO, Rafael & BRUCE Maria. “A Crise na Venezuela: Mídia e Revolução”. In: Revista Eletrônica Boletim do Tempo. Ano 5 nº 3, Rio. 2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário